REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Terça-feira da 13ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, pela vossa graça,
nos fizestes filhos da luz.
Concedei que não sejamos envolvidos pelas trevas do
erro,
mas brilhe em nossas vidas a luz da vossa verdade.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mt 8, 23-27)
23Então Jesus entrou na barca, e seus discípulos o
acompanharam.
24E eis que houve grande agitação no mar, de modo que
a barca estava sendo coberta pelas ondas. Jesus, porém, estava dormindo.
25Os
discípulos se aproximaram e o acordaram, dizendo: "Senhor, salva-nos,
porque estamos afundando!" 26Jesus respondeu: "Por que
vocês têm medo, homens de pouca fé?" E, levantando-se, ameaçou os ventos e
o mar, e tudo ficou calmo.
27Os homens ficaram admirados e disseram:
"Quem é esse homem, a quem até o vento e o mar obedecem?"
3) Reflexão
* Mateus
escreve para as comunidades de judeus convertidos dos anos setenta que se
sentiam como um barquinho perdido no mar revolto da vida, sem muita esperança
de poder alcançar o porto desejado. Jesus parecia estar dormindo no barco, pois
não aparecia para elas nenhum poder divino para salvá-las da perseguição. Em
vista desta situação de angústia e desespero, Mateus recolheu vários episódios
da vida de Jesus para ajudar as comunidades a descobrir, no meio da aparente
ausência, a acolhedora e poderoso presença de Jesus vencedor que domina o mar
(Mt 8,23-27), que vence e expulsa o poder do mal (Mt 9,28-34) e que tem poder
de perdoar os pecados (Mt 9,1-8). Com outras palavras, Mateus quer comunicar
esperança e sugerir que não há motivo para as comunidades terem medo. Este é o
motivo do relato da tempestade acalmada do evangelho de hoje.
* Mateus 8,23: O
ponto de partida: entrar no barco.
Mateus
segue o evangelho de Marcos, mas o abrevia e o ajeita dentro do novo esquema
que ele adotou. Em Marcos, o dia foi pesado de muito trabalho. Terminado o discurso
das parábolas (Mc 4,3-34), os discípulos levaram Jesus no barco e, de tão
cansado que estava, Jesus dormiu em cima de um travesseiro (Mc 4,38). O texto
de Mateus é bem mais breve. Ele apenas diz que Jesus entrou no barco e os
discípulos o acompanhavam. Jesus é o Mestre, os discípulos seguem o mestre.
* Mateus 8,24-25: A
situação desesperadora: “Estamos afundando!”
O
lago da Galiléia é cercado de altas montanhas. Às vezes, por entre as fendas
das rochas, o vento cai em cima do lago e provoca tempestades repentinas. Vento
forte, mar agitado, barco cheio de água! Os discípulos eram pescadores
experimentados. Se eles achavam que iam afundar, então a situação era perigosa
mesmo! Mas Jesus nem sequer acorda, e continua dormindo. Eles gritam: "Senhor, salva-nos, porque estamos
afundando!" Em Mateus, o sono profundo de Jesus não é só sinal de
cansaço. É também expressão da confiança tranqüila de Jesus em Deus. O
contraste entre a atitude de Jesus e dos discípulos é grande!
* Mateus 8,26: A
reação de Jesus: “Por que vocês têm medo?”
Jesus
acorda, não por causa das ondas, mas por causa do grito desesperado dos
discípulos. Ele se dirige a eles e diz: “Por
que vocês têm medo? Homens de pouca fé!” Em seguida, ele se levanta, ameaça
os ventos e o mar, e tudo fica calmo. A impressão que se tem é que não era
preciso acalmar o mar, pois não havia nenhum perigo. É como quando você chega
na casa de um amigo e o cachorro, preso na corrente, ao lado do dono, late
muito contra você. Mas você não precisa ter medo, pois o dono está aí e
controla a situação. O episódio da tempestade acalmada evoca o êxodo, quando o
povo, sem medo, passava pelo meio das águas do mar (Ex 14,22). Jesus refaz o
êxodo. Evoca ainda o profeta Isaías que dizia ao povo: “Quando passares pelas águas eu estarei contigo!” (Is 43,2). Por
fim, o episódio da tempestade acalmada evoca e realiza a profecia anunciada no
Salmo 107:
23
Desciam de navio pelo mar, comerciando na imensidão das águas.
24
Eles viram as obras de Javé, suas maravilhas em alto-mar.
25
Ele falou, levantando um vento impetuoso, que elevou as ondas do mar.
26
Eles subiam até o céu e baixavam até o abismo, a vida deles se agitava na
desgraça.
27
Rodavam, balançando como bêbados, e de nada adiantou a perícia deles.
28
Na sua aflição, clamaram para Javé, e ele os libertou de suas angústias.
29
Ele transformou a tempestade em leve brisa e as ondas emudeceram.
30
Ficaram alegres com a bonança, e ele os guiou ao porto desejado. (Sl 107,23-30)
* Mateus 8,27: O
espanto dos discípulos: “Quem é este homem?”
Jesus
perguntou: “Por que vocês têm medo?”
Os discípulos não sabem o que responder. Admirados, se perguntam: “Quem é este homem a quem até o mar e o
vento obedecem?” Apesar da longa convivência com Jesus, ainda não sabem
direito quem ele é. Jesus parece um estranho para eles! Quem é este homem?
* Quem é este homem? Quem é Jesus para nós, para mim? Esta deve
ser a pergunta que nos leva a continuar a leitura do Evangelho, todos os dias,
com o desejo de conhecer sempre melhor o significado e o alcance da pessoa de
Jesus para a nossa vida. É desta pergunta que nasceu a cristologia. Ela nasceu,
não de altas considerações teológicas, mas sim do desejo dos primeiros cristãos
de encontrar sempre novos nomes e títulos para expressar o que Jesus
significava para eles. São dezenas os nomes, títulos e atributos, desde carpinteiro até filho de Deus, que Jesus recebe: Messias, Cristo, Senhor,
Filho amado, Santo de Deus, Nazareno, Filho do Homem, Noivo, Filho de Deus,
Filho do Deus altíssimo, Carpinteiro, Filho de Maria, Profeta, Mestre, Filho de
Davi, Rabboni, Bendito o que vem em nome do Senhor, Filho, Pastor, Pão da vida,
Ressurreição, Luz do mundo, Caminho, Verdade, Vida, Videira, Rei dos judeus,
Rei de Israel, etc., etc. Cada nome, cada imagem, é uma tentativa para
expressar o que Jesus significava para eles. Mas um nome, por mais bonito que
seja, nunca chega a revelar o mistério de uma pessoa, muito menos da pessoa de
Jesus. Jesus não cabe em nenhum
destes nomes, em nenhum esquema, em nenhum título. Ele é maior, ultrapassa
tudo! Ele não pode ser enquadrado. O amor capta, a cabeça, não! É a partir da
experiência viva do amor que os nomes, os títulos e as imagens recebem o seu
pleno sentido. Afinal, quem é Jesus para mim, para nós?
4) Para um confronto pessoal
1. Qual era o mar agitado no tempo de Jesus? Qual era
o mar agitado na época em que Mateus escreveu o seu evangelho? Qual é hoje o
mar agitado para nós? Alguma vez, as águas agitadas do mar da vida já
ameaçaram afogar você? O que te salvou?
2. Quem é Jesus para mim? Qual o nome de Jesus
que melhor expressa minha fé e meu amor?
5) Oração final
Uma geração conta à outra as tuas obras,
anuncia tuas maravilhas.
Proclama o esplendor glorioso da tua
majestade
e narram teus
prodígios. (Sl 144,
4-5)
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