REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Quinta-feira da 17ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, sois o amparo dos que em vós
esperam
e, sem vosso auxílio,
ninguém é forte, ninguém é santo:
redobrai de amor para
convosco,
para que, conduzidos por
vós,
usemos de tal modo os bens
que passam,
que possamos abraçar os que
não passam.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 13,47-53)
Naquele tempo, disse Jesus a multidão: 47O Reino dos céus é
semelhante ainda a uma rede que, jogada ao mar, recolhe peixes de toda espécie.48Quando
está repleta, os pescadores puxam-na para a praia, sentam-se e separam nos
cestos o que é bom e jogam fora o que não presta.49Assim será no fim
do mundo: os anjos virão separar os maus do meio dos justos50e os
arrojarão na fornalha, onde haverá choro e ranger de dentes.51Compreendestes
tudo isto? Sim, Senhor, responderam eles.52Por isso, todo escriba
instruído nas coisas do Reino dos céus é comparado a um pai de família que tira
de seu tesouro coisas novas e velhas.53Após ter exposto as
parábolas, Jesus partiu.
3) Reflexão
* O evangelho de hoje traz a última parábola
do Sermão das Parábolas: a história da rede lançada ao mar. Esta parábola
encontra-se só no evangelho de Mateus, sem nenhum paralelo nos outros três
evangelhos.
* Mateus
13,47-48: A parábola da rede lançada ao mar
"O Reino do Céu
é ainda como uma rede lançada ao mar. Ela apanha peixes de todo o tipo. Quando
está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e escolhem: os
peixes bons vão para os cestos, os que não prestam são jogados fora”. A história contada é bem conhecida do
povo da Galiléia que vive ao redor do lago. É o trabalho deles. A história
reflete o fim de um dia de trabalho. Os pescadores saem para o mar com esta
única finalidade: jogar a rede, apanhar muito peixe, puxar a rede cheia para a
praia, escolher os peixes bons para levar para casa e jogar fora os que não
servem. Descreve a satisfação do pescador no fim de um dia de trabalho pesado e
cansativo. Esta história deve ter provocado um sorriso de satisfação no rosto
dos pescadores que escutavam Jesus. O pior é chegar na praia no fim do dia sem
ter pescado nada (Jo 21,3).
* Mateus
13,49-50: A aplicação da parábola
Jesus aplica a parábola, ou melhor dá uma sugestão
para as pessoas poderem discutir a parábola e aplicá-la em suas vidas. “Assim acontecerá no fim dos tempos: os
anjos virão para separar os homens maus dos que são bons. E lançarão os maus na
fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes." Como entender esta fornalha de fogo? São
imagens fortes para descrever o destino daqueles que se separam de Deus ou não
querem saber de Deus. Toda cidade tem um lixão, um lugar onde joga os detritos
e o lixo. Lá existe um fogo de monturo permanente que é alimentado diariamente
pelo lixo novo que nele vai sendo despejado. O lixão de Jerusalém ficava num
vale perto da cidade que se chamava geena,
onde, na época dos reis havia até uma fornalha para sacrificar os filhos ao
falso deus Molok. Por isso, a fornalha da geena
tornou-se símbolo de exclusão e de condenação. Não é Deus que exclui. Deus não
quer a exclusão nem a condenação, mas que todos tenham vida e vida em
abundância. Cada um de nós se exclui a si mesmo
* Mateus
13,51-53: O encerramento do Sermão das Parábola
No final do Sermão das parábolas Jesus encerra com a
seguinte pergunta: "Vocês
compreenderam tudo isso?" Ele responderam “Sim!” E Jesus termina a explicação com uma outra comparação que
descreve o resultado que ele quer obter com as parábolas: "E assim, todo doutor da Lei que se torna discípulo do Reino do
Céu é como pai de família que tira do seu baú coisas novas e velhas".
Dois pontos para esclarecer:
(1) Jesus compara o doutor da lei com o pai de
família. O que faz o pai de família? Ele “tira
do seu baú coisas novas e velhas". A educação em casa se faz transmitindo aos filhos e às filhas
o que eles, os pais, receberam e aprenderam ao longo dos anos. É o tesouro da
sabedoria familiar onde estão encerradas a riqueza da fé, os costumes da vida e
tanta outra coisa que os filhos vão aprendendo. Ora, Jesus quer que, na
comunidade, as pessoas responsáveis pela transmissão da fé sejam como o pai de
família. Assim como os pais entendem da vida em família, assim, estas pessoas
responsáveis pelo ensino devem entender as coisas do Reino e transmiti-la aos
irmãos e irmãs da comunidade.
(2) Trata-se de um doutor
da Lei que se torna discípulo do Reino. Havia portanto doutores da lei que
aceitavam Jesus como revelador do Reino. O que acontece com um doutor na hora
em que descobre em Jesus o Messias, o filho de Deus? Tudo aquilo que ele
estudou para poder ser doutor da lei continua válido, mas recebe uma dimensão
mais profunda e uma finalidade mais ampla. Uma comparação para esclarecer o que
acabamos de dizer. Numa roda de amigos alguém mostrou uma fotografia, onde se
via um homem de rosto severo, com o dedo levantado, quase agredindo o público.
Todos ficaram com a idéia de se tratar de uma pessoa inflexível, exigente, que
não permitia intimidade. Nesse momento, chegou um jovem, viu a fotografia e
exclamou: "É meu pai!" Os outros olharam para ele e, apontando a fotografia,
comentaram: "Pai severo, hein!" Ele respondeu: "Não é não! Ele é
muito carinhoso. Meu pai é advogado. Aquela fotografia foi tirada no tribunal,
na hora em que ele denunciava o crime de um latifundiário que queria despejar
uma família pobre que estava morando num terreno baldio da prefeitura há vários
anos! Meu pai ganhou a causa. Os pobres não foram despejados!” Todos olharam de
novo e disseram: "Que pessoa simpática!” Como por um milagre, a fotografia
se iluminou por dentro e tomou um outro aspecto. Aquele rosto, tão severo
adquiriu os traços de uma grande ternura! As palavras do filho, mudaram tudo,
sem mudar nada! As palavras e gestos de Jesus, nascidas da sua experiência de
filho, sem mudar uma letra ou vírgula sequer, iluminaram o sentido do Antigo Testamento
pelo lado de dentro (Mt 5,17-18) e iluminaram por dentro toda a sabedoria
acumulada do doutor da Lei. O mesmo Deus, que parecia tão distante e severo,
adquiriu os traços de um Pai bondoso de grande ternura!
4) Para um confronto
pessoal
1) A experiência do Filho já entrou em
você para mudar os olhos e descobrir as coisas de Deus de outro modo?
2) O que te revelou o Sermão das Parábolas sobre o
Reino?
5) Oração final
Louva, ó minha alma, o Senhor!
Louvarei o Senhor por toda a vida.
Salmodiarei ao meu Deus
enquanto existir. (Sl 145,
1-2)
Nenhum comentário:
Postar um comentário