REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Sábado da 16ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, sede generoso para com os
vossos filhos e filhas
e multiplicai em nós os dons
da vossa graça,
para que, repletos de fé,
esperança e caridade,
guardemos fielmente os
vossos mandamentos.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus
13,24-30)
24 Jesus apresentou-lhes outra parábola: “O Reino dos Céus é como alguém
que semeou boa semente no seu campo. 25Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e
foi embora. 26Quando o trigo cresceu e as espigas começaram a se formar, apareceu
também o joio. 27Os servos foram procurar o dono e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste
boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?’ 28O dono respondeu: ‘Foi algum
inimigo que fez isso’. Os servos perguntaram ao dono: ‘Queres que vamos retirar
o joio?’ 29‘Não!’, disse ele. ‘Pode acontecer que, ao retirar o joio, arranqueis
também o trigo. 30Deixai crescer um e outro até a colheita. No momento da colheita, direi
aos que cortam o trigo: retirai primeiro o joio e amarrai-o em feixes para ser
queimado! O trigo, porém, guardai-o no meu celeiro!’”
3) Reflexão Mateus
13,24-30
* O evangelho de hoje traz a parábola do
joio e do trigo. Tanto na sociedade como nas comunidades e na nossa vida
familiar e pessoal, existe tudo misturado: qualidades boas e incoerências,
limites e falhas. Nas nossas comunidades se reúnem pessoas de várias origens,
cada uma com a sua história, com a sua vivência, a sua opinião, os seus
anseios, as suas diferenças. Há pessoas que não sabem conviver com as
diferenças. Querem ser juiz dos outros. Acham que só elas estão certas, e os
outros erradas. A parábola do joio e do trigo ajuda a não cair na tentação de
querer excluir da comunidade os que não pensam como nós.
* O pano de fundo da parábola do joio e
do trigo. Durante séculos, por causa da observância das leis de pureza, os
judeus tinham vivido separados das outras nações. Este isolamento marcou a vida
deles. Mesmo depois de convertidos, alguns continuavam nesta mesma observância
que os separava dos outros. Eles queriam a pureza total. Qualquer sinal de
impureza devia ser extirpado em nome de Deus. “Não pode haver tolerância com o
pecado”, assim diziam. Mas outros como Paulo ensinavam que a Nova Lei de Deus
trazida por Jesus estava pedindo o contrário! Eles diziam: "Não pode haver
tolerância com o pecado, sim, mas deve haver tolerância com o pecador!"
* Mateus
13,24-26: A situação: joio e trigo crescem juntos
A palavra de Deus que faz nascer a comunidade é
semente boa, mas dentro das comunidades sempre aparecem coisas que são
contrárias à palavra de Deus. De onde vem? Esta era a discussão, o mistério,
que levou a conservar e lembrar a parábola do joio e do trigo.
* Mateus
13,27-28a: A origem da mistura que existe na vida
Os empregados perguntam ao patrão: “Senhor, não semeaste boa semente no teu
campo? Donde veio então o joio?”
O dono respondeu: Um inimigo fez isso. Quem é este inimigo? O inimigo, o
adversário, satanás ou diabo (Mt 13,39), é aquele que divide, que desvia. A
tendência de divisão existe dentro da comunidade e existe dentro de cada um de
nós. O desejo de dominar, de se aproveitar da comunidade para subir e tantos
outros desejos interesseiros são divisionistas, são do inimigo que dorme dentro
de cada um de nós.
* Mateus
13,28b-30: A reação diferente diante da ambiguidade
Diante desta mistura do bem e do mal, os empregados
queriam arrancar o joio. Pensavam: "Se deixarmos todo mundo dentro da
comunidade, perdemos nossa razão de ser! Perdemos a identidade!" Queriam
expulsar os que pensavam diferente. Mas esta não é a decisão do Dono da terra.
Ele diz: "Deixa crescer juntos até a
colheita!" O que vai decidir não é o que cada um fala e diz, mas sim o
que cada um vive e faz. É pelo fruto produzido que Deus nos julgará (Mt 12,33).
A força e o dinamismo do Reino se manifestam na comunidade. Mesmo sendo pequena
e cheia de contradições, ela é um sinal do Reino. Mas ela não é dona nem
proprietária do Reino, nem pode considerar-se totalmente justa. A parábola do
joio e do trigo explica a maneira como a força do Reino age na história. É
preciso ter uma opção clara pela justiça do Reino e, ao mesmo tempo, junto com
a luta pela justiça, ter paciência e aprender a conviver e dialogar com as
contradições e as diferenças. Na hora da colheita se fará a separação.
* O ensino em parábolas
A parábola é um instrumento pedagógico que usa o
quotidiano para mostrar como a vida nos fala de Deus. Torna a realidade
transparente e faz o olhar da gente ficar contemplativo. Uma parábola aponta
para as coisas da vida e, por isso mesmo, é um ensinamento aberto, pois das
coisas da vida todo mundo tem alguma experiência. O ensinamento em parábolas
faz a pessoa partir da experiência que tem: semente, sal, luz, ovelha, flor,
passarinho, mulher, criança, pai, rede, peixe, etc. Assim, ele torna a vida
quotidiana transparente, reveladora da presença e da ação de Deus. Jesus não
costumava explicar as parábolas. Ele deixava o sentido da parábola em aberto e
não o determinava. Sinal de que acreditava na capacidade do povo de descobrir o
sentido da parábola a partir da sua experiência de vida. De vez em quando, a
pedido dos discípulos, ele explicava o sentido (Mt 13,10.36). Por exemplo, como
fez com a parábola do joio e do trigo (Mt 13,36-43).
4) Para um confronto pessoal
1) Como a mistura do joio e do trigo se manifesta na
nossa comunidade? Que consequências traz para a nossa vida?
2) Olhando no espelho da parábola, com quem sou mais
parecido: com os empregados que querem arrancar o joio antes do tempo, ou com o
dono que manda esperar até à hora da colheita?
5) Oração final
Minha alma desfalece
e suspira pelos átrios do Senhor.
Meu coração e minha carne
exultam no Deus vivo. (Sl
83, 3)
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