(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Sábado da 25ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Pai, que resumistes toda lei
no amor a Deus e ao próximo,
fazei que, observando o vosso mandamento,
consigamos chegar um dia à vida eterna.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 9,43b-45)
43Todos
ficaram pasmados ante a grandeza de Deus. Como todos se admirassem de tudo o
que Jesus fazia, disse ele a seus discípulos: 44Gravai nos vossos
corações estas palavras: O Filho do Homem há de ser entregue às mãos dos
homens! 45Eles, porém, não entendiam esta palavra e era-lhes
obscura, de modo que não alcançaram o seu sentido; e tinham medo de lhe
perguntar a este respeito.
3) Reflexão Lucas
9,43b-45 (Mc 9,30-32)
* O evangelho de hoje traz o segundo
anúncio da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Os discípulos não entendem a
palavra sobre a cruz, porque não são capazes de entender nem de aceitar um
Messias que se faz empregado e servidor dos irmãos. Eles continuam sonhando com
um messias glorioso.
* Lucas
9,43b-44: O contraste.
“O povo estava admirado com tudo o que Jesus fazia.
Então Jesus disse aos discípulos: "Prestem atenção ao que eu vou dizer: o
Filho do Homem vai ser entregue na mão dos homens”. O contraste é
muito grande. De um lado, a vibração e a admiração do povo por tudo que Jesus
dizia e fazia. Jesus parece corresponder a tudo aquilo que o povo sonho, crê e
espera. Por outro lado, a afirmação de Jesus de que será preso e entregue na mão dos
homens. Ou seja, a opinião das autoridades sobre Jesus é totalmente contrária à
opinião do povo.
* Lucas
9,45: O anúncio da Cruz.
“Mas os discípulos
não compreendiam o que Jesus dizia. Isso estava escondido a eles, para que não
entendessem. E tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto”. Os discípulos o
escutam, mas não entendem a palavra sobre a cruz. Mesmo assim, não pedem
esclarecimento. Eles têm medo de deixar transparecer sua ignorância!
* O título Filho do Homem
Este nome aparece com grande freqüência nos
evangelhos: 12 vezes em João, 13 vezes em Marcos, 28 vezes em Lucas, 30 vezes
em Mateus. Ao todo, 83 vezes nos quatro evangelhos. É o nome que Jesus mais gostava de usar. Este título vem do
AT. No livro de Ezequiel, ele indica a condição bem humana do profeta (Ez
3,1.4.10.17; 4,1 etc.). No livro de Daniel, o mesmo título aparece numa visão
apocalíptica (Dn 7,1-28), na qual Daniel descreve os impérios dos Babilônios,
dos Medos, dos Persas e dos Gregos. Na visão do profeta, estes quatro impérios
têm a aparência de “animais monstruosos” (cf. Dn 7,3-8). São impérios
animalescos, brutais, desumanos, que perseguem, desumanizam e matam (Dn
7,21.25). Na visão do profeta, depois dos reinos anti-humanos, aparece o Reino
de Deus que tem a aparência, não de um animal, mas sim de uma figura humana, Filho de homem. Ou seja, é um reino com
aparência de gente, reino humano, que promove a vida. Humaniza. (Dn 7,13-14).
Na profecia de Daniel a figura do Filho
do Homem representa, não um indivíduo, mas sim, como ele mesmo diz, o “povo dos Santos do Altíssimo” (Dn 7,27;
cf Dn 7,18). É o povo de Deus que não se deixa desumanizar nem enganar ou
manipular pela ideologia dominante dos impérios animalescos. A missão do Filho do Homem, isto é, do povo de Deus,
consiste em realizar o Reino de Deus como um reino humano. Reino que não persegue a vida, mas sim a promove! Humaniza
as pessoas.
Apresentando-se aos discípulos como Filho do Homem, Jesus assume como sua esta missão que é a missão de todo
o Povo de Deus. É como se dissesse a eles e a todos nós: “Venham comigo! Esta
missão não é só minha, mas é de todos nós! Vamos juntos realizar a missão que
Deus nos entregou, e realizar o Reino humano e humanizador que ele sonhou!” E
foi o que ele fez e viveu durante toda a sua vida, sobretudo, nos últimos três
anos. Dizia o Papa Leão Magno: “Jesus foi tão humano, mas tão humano, como só
Deus pode ser humano”. Quanto mais humano, tanto mais divino. Quanto mais
“filho do homem” e tanto “filho de Deus!” Tudo que desumaniza as pessoas afasta
de Deus. Foi o que Jesus condenou, colocando o bem da pessoa humana como
prioridade acima das leis, acima do sábado (Mc 2,27). Na hora de ser condenado
pelo tribunal religioso do sinédrio, Jesus assumiu este título. Perguntado se
era o “filho do Deus” (Mc 14,61), ele responde que é o “filho do Homem: “Eu
sou. E vocês verão o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso” (Mc
14,62). Por causa desta afirmação foi declarado réu de morte pelas autoridades.
Ele mesmo sabia disso pois tinha dito: “O Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua
vida em resgate para muitos” (Mc 10,45).
4) Para um confronto pessoal
1) Como você na sua vida combina sofrimento e fé em Deus?
2) No tempo de Jesus havia o contraste: povo
pensava e esperava de um jeito, enquanto as autoridades religiosas pensavam e esperavam de outro jeito.
Existe hoje o mesmo contraste
5) Oração final
A tua palavra, Senhor,
é estável como o céu.
Mantenho os meus passos longe dos caminhos do mal,
para guardar a tua palavra. (Sl 118)