REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Terça-feira da 19ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso,
a quem ousamos chamar de
Pai,
dai-nos cada vez mais um
coração de filhos
para alcançarmos um dia a
herança que prometestes.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 18,1-5.10.12-14)
1Neste momento os discípulos aproximaram-se de Jesus
e perguntaram-lhe: Quem é o maior no Reino dos céus? 2Jesus chamou
uma criancinha, colocou-a no meio deles e disse: 3Em verdade vos
declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não
entrareis no Reino dos céus. 4Aquele que se fizer humilde como esta
criança será maior no Reino dos céus. 5E o que recebe em meu nome a
um menino como este, é a mim que recebe. 10Guardai-vos de
menosprezar um só destes pequenos, porque eu vos digo que seus anjos no céu
contemplam sem cessar a face de meu Pai que está nos céus. 12Que vos
parece? Um homem possui cem ovelhas: uma delas se desgarra. Não deixa ele as
noventa e nove na montanha, para ir buscar aquela que se desgarrou? 13E
se a encontra, sente mais júbilo do que pelas noventa e nove que não se
desgarraram. 14Do mesmo modo, o Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum
desses pequenos.
3) Reflexão Mateus
18,1-5.10.12-14
* Aqui no capítulo 18 do evangelho de
Mateus começa o quarto grande discurso da Nova Lei, o Sermão da Comunidade. O Evangelho de Mateus, escrito para as comunidades dos judeus
cristãos da Galiléia e Síria, apresenta Jesus como o novo Moisés. No AT, a Lei
de Moisés foi codificada nos cinco livros do Pentateuco. Imitando o modelo
antigo, Mateus apresenta a Nova Lei em cinco grandes Sermões: 1)
O Sermão da Montanha (Mt 5,1 a 7,29);
2) O Sermão da Missão (Mt
10,1-42); 3) O Sermão das Parábolas (Mt 13,1-52); 4) O Sermão da
Comunidade (Mt 18,1-35); 5) O Sermão do Futuro do Reino (Mt 24,1
a 25,46). As partes narrativas, intercaladas entre os cinco Sermões, descrevem
a prática de Jesus e mostram como ele praticava e encarnava a nova Lei em sua
vida.
* O
evangelho de hoje traz a primeira parte do Sermão
da Comunidade (Mt 18,1-14) que tem como palavra chave os “pequenos”. Os pequenos não são só as crianças, mas
também as pessoas pobres e sem importância na sociedade e na comunidade,
inclusive as crianças. Jesus pede que estes pequenos estejam no
centro das preocupações da comunidade, pois "o
Pai não quer que um só destes pequenos se perca" (Mt 18,14).
* Mateus 18,1: A pergunta dos discípulos que
provocou o ensinamento de Jesus
Os discípulos
querem saber quem é o maior no Reino. Só o fato de eles fazerem esta pergunta
revela que pouco ou nada tinham entendido da mensagem de Jesus. O Sermão da Comunidade, todo inteiro, é
para fazer entender que entre os seguidores e as seguidoras de Jesus deve
vigorar o espírito de serviço, doação, perdão, reconciliação e amor gratuito,
sem buscar o próprio interesse e a autopromoção.
* Mateus 18,2-5: O critério básico: o menor é o
maior.
Os discípulos
querem um critério para poder medir a importância das pessoas na comunidade: "Quem é o maior no Reino do Céu?".
Jesus responde que o critério é a criança!
Criança não tem importância social, não pertence ao mundo dos grandes. Os
discípulos devem tornar-se como crianças. Em vez de querer crescer para cima,
devem crescer para baixo e para a periferia, onde vivem os pobres, os pequenos.
Assim serão os maiores no Reino! E o motivo é este: “Quem recebe a um destes pequenos, recebe a mim!” Jesus se
identifica com eles. O amor de Jesus pelos pequenos não tem explicação. Criança
não tem mérito. É a pura gratuidade do amor de Deus que aqui se manifesta e
pede para ser imitada na comunidade dos que se dizem discípulos e discípulas de
Jesus.
* Mateus 18,6-9: Não escandalizar os pequenos.
Estes quatro
versículos sobre o escândalo dos pequenos foram omitidos no texto do evangelho
de hoje. Damos um breve comentário. Escandalizar
os pequenos significa: ser motivo para que os pequenos percam a fé em Deus
e abandonem a comunidade. Mateus conservou uma frase muito dura de Jesus: “Quem escandalizar um desses pequeninos que
acreditam em mim, melhor seria para ele pendurar uma pedra de moinho no
pescoço, e ser jogado no fundo do mar”. Sinal de que naquele tempo muitos
pequenos já não se identificavam mais com a comunidade e procuravam outros
abrigos. E hoje? Na América Latina, por exemplo, cada ano, são em torno de 3
milhões de pessoas que abandonam as igrejas históricas e mudam para as igrejas
evangélicas. Sinal de que já não se sentem em casa entre nós. E muitas vezes
são os mais pobres que nos abandonam. O que falta em nós? Qual a causa deste escândalo
dos pequenos? Para evitar o escândalo, Jesus manda cortar mão ou pé e arrancar
o olho. Esta frase não pode ser tomada ao pé da letra. Ela significa que se
deve ser muito exigente no combate ao escândalo que afasta os pequenos. Não
podemos permitir, de forma nenhuma, que os pequenos se sintam marginalizados na
nossa comunidade. Pois neste caso a comunidade já não seria um sinal do Reino
de Deus.
* Mateus 18,10-11: Os anjos dos pequenos estão na
presença do Pai
* Jesus
evoca o salmo 91. Os pequenos fazem de Javé o seu refúgio e tomam o Altíssimo
como defensor (Sl 91,9) e, por isso: “A
desgraça jamais o atingirá, e praga nenhuma vai chegar à sua tenda, pois ele
ordenou aos seus anjos que guardem você em seus caminhos. Eles o levarão nas
mãos, para que seu pé não tropece numa pedra”. (Sl 91,10-12).
* Mateus 18,12-14: A parábola das cem ovelhas
Para Lucas, esta
parábola revela a alegria de Deus pela conversão de um pecador (Lc 15,3-7).
Para Mateus, ela revela que o Pai não quer que um destes pequeninos se perca.
Com outras palavras, os pequenos devem ser a prioridade pastoral da Comunidade,
da Igreja. Eles devem estar no centro da preocupação de todos. O amor aos
pequenos e excluídos deve ser o eixo da comunidade dos que querem seguir Jesus.
Pois é deste modo que a comunidade se torna amostra do amor gratuito de Deus
que acolhe a todos.
4) Para um confronto pessoal
1. As pessoas mais pobres do bairro participam da
nossa comunidade? Elas se sentem bem ou encontram em nós motivo para se
afastar?
2. Deus Pai não quer que se perca nenhum dos pequenos.
O que significa isto para a nossa comunidade?
5) Oração final
Minha herança eterna são as vossas prescrições,
porque fazem a alegria de meu coração.
Abro a boca para aspirar,
num intenso amor de vossa lei. (Sl
118,111.131)
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