REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Sábado da 20ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, que preparastes para quem
vos ama
bens que nossos olhos não
podem ver;
acendei em nossos corações a
chama da caridade
para que, amando-vos em tudo
e acima de tudo,
corramos ao encontro das
vossas promessas que superam todo desejo.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 23,1-12)
1Depois, Jesus falou às multidões e aos discípulos: 2“Os escribas e os fariseus
sentaram-se no lugar de Moisés para ensinar. 3Portanto, tudo o que eles vos disserem, fazei e observai, mas não
imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam. 4Amarram fardos pesados e
insuportáveis e os põem nos ombros dos outros, mas eles mesmos não querem
movê-los, nem sequer com um dedo. 5Fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros, usam faixas
bem largas com trechos da Lei e põem no manto franjas bem longas. 6Gostam do lugar de honra nos
banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, 7de serem cumprimentados nas praças
públicas e de serem chamados de ‘rabi’. 8Quanto a vós, não vos façais chamar de ‘rabi’, pois um só é vosso Mestre
e todos vós sóis irmãos. 9Não chameis a ninguém na terra de ‘pai’, pois um só é vosso Pai, aquele
que está nos céus. 10Não deixeis que vos chamem de ‘guia’, pois um só é o vosso Guia, o
Cristo. 11Pelo contrário, o maior dentre vós deve ser aquele que vos serve. 12Quem se exaltar será humilhado, e
quem se humilhar será exaltado.
3) Reflexão Mateus
23,1-12
* O
evangelho de hoje faz parte da longa crítica de Jesus contra os escribas e
fariseus (Mt 23,1-39). Lucas e Marcos têm apenas alguns trechos desta crítica
contra as lideranças religiosas da época. Só o evangelho de Mateus traz o
discurso por inteiro. Este texto tão severo deixa entrever com era grande a
polêmica das comunidades de Mateus com as comunidades dos judeus daquela época
na Galiléia e Síria.
* Ao ler
estes textos fortemente contrários aos fariseus devemos tomar muito cuidado
para não sermos injustos com o povo judeu. Nós cristãos, durante séculos,
tivemos atitudes anti-judaicas e, por isso mesmo, anti-cristãs. O que importa
ao meditar estes textos é descobrir o seu objetivo: Jesus condena a incoerência
e a falta de sinceridade no relacionamento com Deus e com o próximo. Ele está
falando contra a hipocrisia tanto a deles de ontem, como a nossa de hoje!
* Mateus 23,1-3: O
erro básico: dizem mas não fazem
Jesus se dirige
à multidão e aos discípulos e faz uma crítica aos escribas e fariseus. O motivo
do ataque é a incoerência entre a palavra e a prática. Falam e não praticam.
Jesus reconhece a autoridade e o conhecimento dos escribas. “Estão sentados na cátedra de Moisés. Por
isso, observai o que eles mandam! Mas não imitai suas ações, pois dizem mas não
fazem!”
* Mateus 23,4-7: O
erro básico se manifesta de várias maneiras.
O erro básico é
a incoerência: “Dizem mas não fazem”. Jesus enumera vários pontos que revelam
a incoerência. Alguns escribas e fariseus impunham leis pesadas ao povo. Eles
conheciam bem as leis mas não as praticavam, nem usavam o seu conhecimento para
aliviar a carga nos ombros do povo. Faziam tudo para serem vistos e elogiados,
usavam roupas especiais de oração, gostavam dos lugares de honra e das
saudações em praça pública. Queriam ser chamados de “Mestre!” Eles
representavam um tipo de comunidade que mantinha, legitimava e alimentava as
diferenças de classe e de posição social. Legitimava os privilégios dos grandes
e a posição inferior dos pequenos. Ora, se há uma coisa de que Jesus não
gostava é de aparências que enganam.
* Mateus 23,8-12: Como
combater o erro básico.
Como deve ser
uma comunidade cristã? Todas as funções comunitárias devem ser assumidas como
um serviço: “O maior entre você será
aquele que serve!” A ninguém devem chamar de Mestre (Rabino), nem de Pai,
nem de Guia. Pois a comunidade de Jesus deve manter, legitimar e alimentar não
as diferenças, mas sim a fraternidade. Esta é a lei básica: “Vocês todos são irmãos e irmãs!” A
fraternidade nasce da experiência de que Deus é Pai, o que faz de todos nós
irmãos e irmãs. “Aquele que se exaltar
será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado!”
* O
grupo dos Fariseus. O grupo dos fariseus
nasceu no século II antes de Cristo com a proposta de uma observância mais
perfeita da Lei de Deus, sobretudo das prescrições da pureza. Eles eram mais
abertos às novidades do que os saduceus. Por exemplo, aceitavam a fé na
ressurreição e a fé nos anjos, coisa que os saduceus não aceitavam. A vida dos
fariseus era um testemunho exemplar: rezavam e estudavam a lei durante oito
horas por dia; trabalhavam durante oito horas para poder sobreviver; faziam
descanso e lazer durante oito horas. Por isso, tinham grande liderança junto do
povo. Deste modo, eles ajudaram o povo a conservar sua identidade e a não se
perder, ao longo dos séculos.
* A mentalidade chamada farisaica.
Com o tempo, porém, os fariseus se agarraram ao poder e já não
escutavam os apelos do povo nem deixavam o povo falar. A palavra “fariseu” significa “separado”. A observância deles era tão estrita e rigorosa, que
eles se distanciavam do comum do povo. Por isso, eram chamados de “separados”.
Daí nasce a expressão "mentalidade farisaica" É de pessoas que pensam
poder conquistar a justiça através de uma observância estrita e rigorosa da Lei
de Deus. Geralmente, são pessoas medrosas, que não têm coragem de assumir o
risco da liberdade e da responsabilidade. Elas se escondem atrás das leis e das
autoridades. Quando estas pessoas alcançam uma função de mando, tornam-se duras
e insensíveis para esconder a sua imperfeição.
* Rabino, Guia, Mestre, Pai. São os quatro títulos que Jesus
proíbe a gente de usar. Hoje, na igreja, os sacerdotes são chamados de “pai”
(padre). Muitos estudam nas universidades da igreja e conquistam o título de
“Doutor” (mestre). Muita gente faz direção espiritual e se aconselha com
pessoas que são chamadas “Diretor espiritual” (guia). O que importa é que se
tenha em conta o motivo que levou Jesus a proibir o uso destes títulos. Se
forem usados para a pessoa se firmar numa posição de autoridade e de poder, ela
estará errada e cai debaixo da crítica de Jesus. Se forem usados para alimentar
e aprofundar a fraternidade e o serviço, não caem debaixo da crítica de Jesus.
4) Para um confronto pessoal
1. Quais as motivações que eu tenho para viver e
trabalhar na comunidade?
2. Como a comunidade vem me ajudando a corrigir e
melhorar minhas motivações?
5) Oração final
Ouvirei o que diz o Senhor Deus:
ele anuncia paz para seu povo, para seus
fiéis,
para quem volta para ele de todo
coração.
Sua salvação está próxima de quem o teme
e sua glória habitará em nossa terra. (Sl
84, 9-10)
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