REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Quarta-feira da 20ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, que preparastes para quem
vos ama
bens que nossos olhos não
podem ver;
acendei em nossos corações a
chama da caridade
para que, amando-vos em tudo
e acima de tudo,
corramos ao encontro das
vossas promessas que superam todo desejo.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 20,1-16a)
1Com
efeito, o Reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da
manhã, a fim de contratar operários para sua vinha. 2Ajustou com
eles um denário por dia e enviou-os para sua vinha. 3Cerca da
terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na praça sem fazer nada.
4Disse-lhes ele: - Ide também vós para minha vinha e vos darei o justo
salário. 5Eles foram. À sexta hora saiu de novo e igualmente pela
nona hora, e fez o mesmo. 6Finalmente, pela undécima hora, encontrou
ainda outros na praça e perguntou-lhes: - Por que estais todo o dia sem fazer
nada?7Eles responderam: - É porque ninguém nos contratou. Disse-lhes
ele, então: - Ide vós também para minha vinha. 8Ao cair da tarde, o
senhor da vinha disse a seu feitor: - Chama os operários e paga-lhes, começando
pelos últimos até os primeiros. 9Vieram aqueles da undécima hora e
receberam cada qual um denário. 10Chegando por sua vez os primeiros,
julgavam que haviam de receber mais. Mas só receberam cada qual um denário.
11Ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo: 12Os
últimos só trabalharam uma hora... e deste-lhes tanto como a nós, que
suportamos o peso do dia e do calor. 13O senhor, porém, observou a
um deles: - Meu amigo, não te faço injustiça. Não contrataste comigo um
denário? 14Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último
tanto quanto a ti. 15Ou não me é permitido fazer dos meus bens o que
me apraz? Porventura vês com maus olhos que eu seja bom? 16Assim,
pois, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos.
3) Reflexão Mateus
20,1-16
* O evangelho de hoje traz uma parábola
que só é relatada por Mateus. Ela não existe nos outros três evangelhos. Como
em todas as parábolas, Jesus conta uma história feita de elementos do dia-a-dia
da vida do povo. Ele retrata a situação social do seu tempo, na qual os
ouvintes se reconhecem. Mas ao mesmo tempo, na história desta parábola,
acontecem coisas que nunca acontecem na realidade da vida do povo. É que, ao
falar do patrão, Jesus pensa em Deus, seu Pai. Por isso, na história da
parábola, o patrão faz coisas surpreendentes que não acontecem no dia-a-dia da
vida dos ouvintes. É nesta atitude estranha do patrão, que deve ser procurada a
chave para a compreensão do mensagem da parábola.
* Mateus
20,1-7: As cinco vezes que o patrão sai em busca de operários
"O Reino do Céu é como um patrão, que
saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Combinou com
os trabalhadores uma moeda de prata por dia, e os mandou para a vinha” Assim começa a
história que fala por si e nem precisaria de muito comentário. No que segue, o
patrão sai mais quatro vezes chamando operários para trabalhar na sua vinha.
Jesus alude ao terrível desemprego daquela época. Alguns detalhes da
história: (1) O
próprio patrão sai pessoalmente cinco vezes para contratar operários. (2) Na
hora de contratar os operários, é só com o primeiro grupo que ele acerta o
salário: um denário por dia. Com os da nona hora ele diz: Eu lhes pagarei o que for justo. Com os outros ele não acertou
nada. Apenas os contratou para trabalhar na vinha. (3) No fim do dia, na hora
de acertar as contas com os operários, o patrão manda que o administrador faça
o serviço.
* Mateus
20,8-10: A estranha maneira de acertar as contas no fim do dia
Quando chegou a tarde, o patrão disse ao
administrador: Chame os trabalhadores, e pague uma diária a todos. Comece pelos
últimos, e termine pelos primeiros. Aqui, na hora de acertar as contas,
acontece algo estranho que não acontece na vida comum. Parece a inversão das
coisas. O pagamento começa com os que foram contratados por último e que
trabalharam apenas uma única hora. O pagamento é o mesmo para todos: um
denário, como tinha sido combinado com os que foram contratados no começo do
dia. No fim, chegaram os que foram
contratados primeiro, e pensavam que iam receber mais. No entanto, cada um
deles recebeu também uma moeda de prata. Por que o patrão faz isso? Você faria assim? É aqui neste
gesto surpreendente do patrão que está escondida a chave da mensagem desta
parábola.
* Mateus
20,11-12: A reação normal dos operários diante da estranha atitude do patrão
Os
últimos a receber o salário eram os que foram contratados por primeiro. Estes,
assim diz a história, ao receberem o pagamento, começaram a resmungar contra o
patrão e disseram: “Esses últimos
trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o
calor do dia inteiro!” É a
reação normal do bom senso. Creio que todos nós teríamos a mesma reação e
diríamos a mesma coisa ao patrão. Ou não?
* Mateus
20,13-16: A explicação surpreendente do Patrão que fornece a chave da parábola
A
resposta do patrão é esta: “Amigo, eu não
fui injusto com você. Não combinamos uma moeda de prata? Tome o que é seu, e
volte para casa. Eu quero dar também a esse, que foi contratado por último, o
mesmo que dei a você. Por acaso não tenho o direito de fazer o que eu quero com
aquilo que me pertence? Ou você está com ciúme porque estou sendo generoso?” Estas palavras trazem a chave que
explica a atitude do patrão e aponta a mensagem que Jesus quer comunicar: (1) O
patrão não foi injusto, pois ele agiu de acordo com o que tinha sido combinado
com o primeiro grupo de operários: um denário por dia. (2) É decisão soberano
do patrão de dar aos últimos o mesmo que tinha sido combinado com os da
primeira hora. Estes não têm direito de reclamar. (3) Atuando dentro da
justiça, o patrão tem o direito de fazer o bem que ele quer com as coisas que
lhe pertencem. O operário da parte dele tem este mesmo direito. (4) A pergunta
final toca no ponto central: Ou você está
com ciúme porque estou sendo generoso?' Deus é diferente mesmo! Ele não
cabe nos nossos pensamentos (Is 55,8-9).
* O pano de fundo da parábola é a
conjuntura daquela época, tanto de Jesus como de Mateus. Os operários da
primeira hora são o povo judeu, chamado por Deus para trabalhar em sua vinha.
Eles sustentaram o peso do dia, desde Abraão e Moisés, bem mais de mil anos.
Agora, na undécima hora, Jesus chama os pagãos para ir trabalhar na sua vinha e
eles chegam a ter a preferência do coração de Deus. “Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os
últimos”.
4) Para um confronto pessoal
1)
Os da undécima hora chegam, levam vantagem e recebem prioridade na fila diante
da entrada do Reino de Deus. Quando você espera duas horas numa fila e chega
alguém que, sem mais, se coloca na frente de você, você aceitaria? Dá para
comparar as duas situações?
2)
A ação de Deus ultrapassa nossos cálculos e nosso jeito humano de atuar. Ele
surpreende e às vezes incomoda. Isto já aconteceu alguma vez na sua vida? Qual
a lição que tirou?
5) Oração final
A vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me
por todos os dias de minha vida.
E habitarei na casa do Senhor por longos dias. (Sl
22, 6)
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