REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Terça-feira da 11ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, força daqueles que
esperam em vós,
sede favorável ao nosso
apelo,
e como nada podemos em nossa
fraqueza,
dai-nos sempre o socorro da
vossa graça,
para que possamos querer e
agir conforme vossa vontade,
seguindo os vossos
mandamentos.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 5,43-48)
43Tendes
ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo. 44Eu,
porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos
que vos [maltratam e] perseguem. 45Deste modo sereis os filhos de
vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os
bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. 46Se amais
somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios
publicanos? 47Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de
extraordinário? Não fazem isto também os pagãos? 48Portanto, sede
perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.
3) Reflexão - Mt
5,43-48
* No
evangelho de hoje alcançamos o topo da Montanha das Bem-aventuranças, onde
Jesus proclamou a Lei do Reino de Deus, cujo ideal se resume nesta frase
lapidar: “Sede perfeitos como vosso Pai
do céu é perfeito” (Mt 5,48). Jesus estava
corrigindo a Lei de Deus! Cinco vezes em seguida ele já tinha afirmado: “Antigamente foi dito, mas eu digo!” (Mt
5,21.27,31.33.38). Era sinal de muita coragem da parte dele de corrigir,
publicamente, diante de todo o povo reunido, o tesouro mais sagrado do povo, a
raiz da sua identidade, que era a Lei de Deus. Jesus quer comunicar um novo
olhar para entender e praticar a Lei de Deus. A chave para poder atingir este
novo olhar é a afirmação: “Sede perfeitos como vosso Pai do céu é perfeito”. Nunca ninguém poderá chegar a dizer: “Hoje fui
perfeito como o Pai do céu é perfeito!” Estaremos sempre abaixo da medida que
Jesus colocou diante de nós. Por que será que ele colocou diante de nós um
ideal impossível a ser atingido por nós mortais?
* Mateus 5,43-45: Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo
Nesta frase Jesus explicita a mentalidade com que os
escribas explicavam a lei; mentalidade que nascia das divisões entre judeu e não-Judeu, entre próximo e não-próximo,
entre santo e pecador, entre puro o impuro, etc. Jesus manda subverter esta
pretensa ordem nascida de divisões interesseiras. Ele manda ultrapassar as
divisões. “Eu, porém, lhes digo: amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que
perseguem vocês! Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu, porque
ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e a chuva cair sobre justos e injustos”. E aqui atingimos a
fonte, de onde brota a novidade do Reino. Esta fonte é o próprio Deus,
reconhecido como Pai, que faz nascer o sol sobre maus e bons. Jesus
manda que imitemos este Deus: "Sede
perfeitos como vosso Pai celeste é
perfeito" (5,48). E' imitando
este Deus que criamos uma sociedade justa, radicalmente nova:
* Mateus 5,46-48: Ser perfeito como o Pai celeste é
perfeito
Tudo se
resume em imitar Deus: "Pois, se vocês amam somente aqueles que os amam,
que recompensa vocês terão? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa?
E se vocês cumprimentam somente seus irmãos, o que é que vocês fazem de
extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sejam perfeitos
como é perfeito o Pai de vocês que está no céu" (Mt 5,43-48). O amor é o princípio e o fim
de tudo. Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão (Jo 15,13).
Jesus imitou o Pai e revelou o seu amor. Cada gesto, cada palavra de Jesus,
desde o nascimento até à hora de morrer na cruz, era uma expressão deste amor
criador que não depende do presente que recebe, nem descrimina o outro por
motivo de raça, sexo, sexo, religião ou classe social, mas que nasce de um bem
querer totalmente gratuito. Foi um crescendo contínuo, desde o nascimento até à
morte na Cruz.
* A manifestação plena do amor criador em
Jesus. Foi quando na Cruz ele ofereceu o perdão ao soldado que o
torturava e matava. O soldado, empregado
do império, prendeu o pulso de Jesus no braço da cruz, colocou um prego e
começou a bater. Deu várias pancadas. O sangue espirrava. O corpo de Jesus se
contorcia de dor. O soldado, mercenário ignorante, alheio ao que estava fazendo
e ao que estava acontecendo ao redor, continuava batendo como se fosse um prego
na parede da casa para pendurar um quadro. Neste momento Jesus dirige ao Pai
esta prece: “Pai, perdoa! Eles não sabem
o que estão fazendo!” (Lc 23,34). Por mais que os homens quisessem, a
desumanidade não conseguiu apagar em Jesus a humanidade. Eles o prenderam,
xingaram, cuspiram no rosto dele, deram soco na cara, fizeram dele um rei
palhaço com coroa de espinhos na cabeça, flagelaram, torturaram, fizeram-no
andar pelas ruas como um criminoso, teve de ouvir os insultos das autoridades
religiosas, no calvário deixaram-no totalmente nu à vista de todos e de todas.
Mas o veneno da desumanidade não conseguiu alcançar a fonte da humanidade que
brotava de dentro de Jesus. A água que jorrava de dentro era mais forte que o
veneno que vinha de fora, querendo de novo contaminar tudo. Olhando aquele
soldado ignorante e bruto, Jesus teve dó do rapaz e rezou por ele e por todos: “Pai, perdoa!” E ainda arrumou uma
desculpa: “São ignorantes. Não sabem o que estão fazendo!” Diante do Pai, Jesus
se fez solidário daqueles que o torturavam e maltratavam. Era como o irmão que
vem com seus irmãos assassinos diante do juiz e ele, vítima dos próprios
irmãos, diz ao juiz: “São meus irmãos, sabe. São uns ignorantes. Perdoa. Eles
vão melhorar!” Era como se Jesus estivesse com medo que o mínimo de raiva
contra o rapaz pudesse apagar nele o restinho de humanidade que ainda sobrava.
Este gesto incrível de humanidade e de fé na possibilidade de recuperação
daquele soldado foi a maior revelação do amor de Deus. Jesus pôde morrer: “Está
tudo consumado!” E inclinando a cabeça, entregou o espírito (Jo 19,30).
Realizou a profecia do Servo Sofredor (Is 53).
4) Para um confronto pessoal
1) Qual a motivação mais profunda do esforço que você
faz para observar a Lei de Deus: merecer a salvação ou agradecer a bondade
imensa de Deus que te criou, te mantém em vida e te salva?
2) Como você entende a frase “ser perfeito como o Pai
do céu é perfeito”?
5) Oração final
Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade.
E conforme a imensidade de vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade.
Lavai-me totalmente de minha falta,
e purificai-me de meu pecado.
(Sl 50,3-4)
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