REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Sábado da 11ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, força daqueles que esperam
em vós,
sede favorável ao nosso
apelo,
e como nada podemos em nossa
fraqueza,
dai-nos sempre o socorro da
vossa graça,
para que possamos querer e
agir conforme vossa vontade,
seguindo os vossos
mandamentos.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 6,24-34)
Naquele tempo disse Jesus a seus discípulos: 24Ninguém pode
servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á
a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza. 25Portanto,
eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por
vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo
não é mais que as vestes? 26Olhai as aves do céu: não semeiam nem
ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis
vós muito mais que elas? 27Qual de vós, por mais que se esforce,
pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? 28E por que vos
inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não
trabalham nem fiam. 29Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão
no auge de sua glória não se vestiu como um deles. 30Se Deus veste
assim a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto
mais a vós, homens de pouca fé? 31Não vos aflijais, nem digais: Que
comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? 32São os pagãos
que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de
tudo isso. 33Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua
justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. 34Não vos
preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas
preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado.
3) Reflexão - Mt 6,24-34)
* O evangelho de hoje nos ajuda a rever o relacionamento com
os bens materiais e trata de dois assuntos de tamanho desigual: (1) nosso
relacionamento com o dinheiro (Mt 6,24) e nosso relacionamento com a
Providência Divina (Mt 6,25-34). Os conselhos dados por Jesus suscitam várias
perguntas de difícil resposta. Por exemplo, como entender hoje a afirmação:
"Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24)? Como entender a
recomendação de não nos preocupar com comida, bebida e roupa (Mt 6,25)?
* Mateus
6,24: Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro
* Jesus é muito claro na sua afirmação: “Ninguém pode servir a dois senhores. Porque, ou odiará a um e amará o
outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e
ao dinheiro". Cada um, cada uma, terá que fazer uma escolha. Terá que
se perguntar: “Quem eu coloco em primeiro lugar na minha vida: Deus ou o
dinheiro?” Desta escolha dependerá a compreensão dos conselhos que seguem sobre
a Providência Divina (Mt 6,25-34). Não se trata de uma escolha feita só com a
cabeça, mas de uma escolha bem concreta de vida que envolve as atitudes.
* Mateus
6,25: Jesus critica a preocupação demasiada com comida e roupa
Esta crítica de Jesus até hoje provoca muito
espanto no povo, pois a grande preocupação de todo pai e mãe de família é com
comida e roupa para os filhos. O motivo da crítica é que a vida vale mais do
que comida e o corpo vale mais do que a roupa. Para esclarecer sua crítica
Jesus traz duas parábolas: dos passarinhos e das flores.
* Mateus
6,26-27: A parábola dos passarinhos: a vida vale mais que a comida
Jesus manda olhar os passarinhos. Não semeiam,
não têm armazém, e no entanto sempre têm o que comer, porque o Pai do céu os
alimenta. “E vocês valem mais que os
passarinhos!” O que Jesus critica é quando a preocupação pela comida ocupa
todo o horizonte da vida das pessoas, não deixando mais espaço para se
experimentar e saborear a gratuidade da fraternidade e da pertença ao Pai. Por
isso, criminoso é o sistema neo-liberal que obriga a grande maioria das pessoas
a viverem 24 horas por dia preocupadas com comida e roupa, e que provoca na
outra pequena minoria rica uma ânsia de comprar e de consumir a ponto de não
deixar mais espaço para outra coisa. Jesus diz que a vida vale mais do que os
bens de consumo! O sistema neoliberal impede a vivência do Reino.
3. Mateus 6,28-30: A parábola dos lírios: o corpo
vale mais que a roupa
Jesus manda olhar as flores, os lírios do
campo. Com que elegância e beleza Deus as veste! “Ora, se Deus veste assim o capim, quanto mais a vocês, pessoas fracas
na fé!” Jesus coloca um lembrete nas coisas da natureza, para que, vendo as
flores e o capim, a gente se lembre da missão que temos de lutar pelo Reino e
de criar uma convivência nova que possa garantir comida e roupa para todos.
* Mateus
6,31-32: Não ser como os pagãos
Jesus retoma a crítica contra a preocupação
demasiada com comida, bebida e roupa. E conclui: “São os pagãos que se preocupam com tudo isso!” Deve haver uma
diferença na vida dos que têm fé em Jesus e dos que não tem fé em Jesus. Os que
tem fé em Jesus partilham com ele a experiência de gratuidade de Deus como Pai,
Abba. Esta experiência da paternidade deve revolucionar a convivência. Deve
gerar uma vida comunitária que seja fraterna, semente de nova sociedade.
* Mateus
6,33-34: O Reino em primeiro lugar
Jesus aponta dois critérios: “Buscar primeiro o
Reino” e “Não preocupar-se com o dia de amanhã”. Buscar em primeiro lugar o
Reino e a sua justiça significa buscar realizar a vontade de Deus e permitir que
Deus possa reinar em nossas vidas. A busca de Deus se traduz concretamente na
busca de uma convivência fraterna e justa. Onde houver esta preocupação pelo
Reino, nascerá uma vida comunitária em que todos viverão como irmãos e irmãs e
ninguém mais passará necessidade. Aí não haverá mais preocupação com o dia de
amanhã, isto é, não haverá mais preocupação em acumular.
* Buscar primeiro o Reino de Deus e a sua
justice
O Reino de Deus deve ser o centro de toda a
nossa preocupação. O Reino pede uma convivência, onde não haja acumulação e sim
partilha, para que todos possam ter o necessário para viver. O Reino é a nova
convivência fraterna, em que cada pessoa se sente responsável pela outra. Esta
maneira de ver o Reino ajuda a entender melhor as parábolas dos passarinhos e
das flores, pois para Jesus a Providência Divina passa pela organização
fraterna. Preocupar-se com o Reino e a sua justiça é o mesmo que preocupar-se
em aceitar Deus como Pai e em ser irmão e irmã uns dos outros. Frente ao
crescente empobrecimento causado pelo neoliberalismo econômico, a saída
concreta que o evangelho nos apresenta e os pobres encontraram para a sua
sobrevivência é a solidariedade e a organização.
* Uma faca afiada na mão de uma criança
pode ser arma mortal. Uma faca afiada na mão de uma pessoa amarrada com cordas
é arma que salva. Assim são as palavras de Jesus sobre a Providência Divina.
Seria anti-evangélico dizer a um pai de famílias desempregado, pobre, com oito
filhos, e mulher doente: "Não se
preocupe com o que vai comer e beber! Por que ficar preocupado com roupa e
saúde?" (Mt 6,25.28). Isto só podemos dize-lo quando nós mesmos,
imitando a Deus como Jesus, nos organizarmos entre nós para realizar a partilha
dos bons, garantindo assim ao irmão a sobrevivência. Do contrário seríamos como
os três amigos de Jó que, para defender a Deus, contavam mentiras sobre a vida
humana (Jó 13,7). Seria “leiloar um órfão e traficar um amigo" (Jóַ
7,27). Na boca do sistema dos ricos, estas mesmas palavras podem ser armas
mortais contra os pobres. Na boca do pobre, elas podem ser uma saída real e
concreta para uma convivência melhor, mais justa e mais fraterna.
4) Para um confronto pessoal
1. Como eu entendo e vivo a confiança na Providência
Divina?
2. Como cristãos temos a
missão de dar uma expressão concreta àquilo que nos anima por dentro. Qual a
expressão que estamos dando à nossa confiança na Divina Providência?
5) Oração final
Indicai-me, Senhor, o caminho dos teu decretos
e o seguirei até o fim.
Dai-me inteligência pra que observe a tua lei
e a guarde com todo o coração. (Sl 118)
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