REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Quarta-feira da 12ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Senhor, nosso Deus,
dai-nos por toda a vida
a graça de vos amar e temer,
pois nunca cessais de
conduzir
os que formais no vosso
amor.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 7,15-20)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
15Cuidado com os falsos profetas:
Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha,
mas por dentro são lobos ferozes.
16Vós os conhecereis pelos seus frutos.
Por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas?
17Assim, toda árvore boa produz frutos bons,
e toda árvore má, produz frutos maus.
18Uma árvore boa não pode dar frutos maus,
nem uma árvore má pode produzir frutos bons.
19Toda árvore que não dá bons frutosé cortada e jogada no fogo.
20Portanto, pelos seus frutos vós os conhecereis.
3) Reflexão - Mt 7,15-20
* Estamos
chegando às recomendações finais do Sermão da Montanha. Comparando o evangelho
de Mateus com o de Marcos percebe-se uma grande diferença na maneira de os dois
apresentarem o ensinamento de Jesus. Mateus insiste mais no conteúdo do
ensinamento e o organizou em cinco grande discursos, dos quais o Sermão da
Montanha é o primeiro (Mt 5 a 7). Marcos, por mais de quinze vezes, diz que Jesus ensinava, mas raramente diz o que ele
ensinava. Apesar destas diferenças, os
dois concordam num ponto: Jesus ensinava muito. Ensinar era o que Jesus mais fazia (Mc 2,13;
4,1-2; 6,34). Era o costume dele (Mc 10,1). Mateus
se interessava pelo conteúdo. Será que Marcos não se interessava pelo conteúdo? Depende do que
entendemos por conteúdo! Ensinar não é só uma questão de comunicar verdades
para o povo aprender de memória. O conteúdo não está só nas palavras, mas
também nos gestos e no próprio jeito de Jesus se relacionar com as pessoas. O
conteúdo nunca está desligado da pessoa que o comunica. Ela, a pessoa, é a raiz
do conteúdo. A bondade e o amor que transparecem nas palavras e gestos de Jesus
fazem parte do conteúdo. São o seu tempero. Conteúdo bom sem bondade é como
leite derramado. Não convence e não à conversão.
* As
recomendações finais e o resultado do Sermão da Montanha na consciência do povo
ocupam o evangelho de hoje (Mt 7,15-20) e o de amanhã (Mt 7,21-29). (A
seqüência dos evangelhos diários da semana nem sempre é a mesma dos próprios
evangelhos.)
Mateus 7,13-14: Escolher o caminho certo
Mateus 7,15-20: O
profeta se conhece pelos frutos
Mateus 7,21-23: Não
só falar, também praticar
Mateus 7,24-27: Construir
a casa na rocha
Mateus 7,28-29: A
nova consciência do povo
* Mateus 7,15-16ª : Cuidado com os falsos profetas
No tempo de
Jesus, havia profetas de todo tipo, pessoas que anunciavam mensagens
apocalípticas para envolver o povo nos vários movimentos daquela época:
essênios, fariseus, zelotes e outros (cf. At 5,36-37). No tempo em que Mateus
escreve também havia profetas que anunciavam mensagens diferentes da mensagem
proclamada pelas comunidades. As cartas de Paulo mencionam estes movimentos e
tendências (cf 1Cor 12,3; Gal 1,7-9; 2,11-14;6,12). Não deve ter sido fácil para
as comunidades fazer o discernimento dos espíritos. Daí a importância das
palavras de Jesus sobre os falsos profetas. A advertência de Jesus é muito
forte: "Cuidado com os falsos profetas: eles vêm a vocês vestidos com
peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes”. A mesma imagem é usada quando Jesus envia os
discípulos e as discípulas para a missão: “Mando
vocês como cordeiros no meio de lobos” (Mt 10,16 e Lc 10,3). A oposição entre
lobo voraz e manso cordeiro é irreconciliável, a não ser que o lobo se converta
e perca a sua agressividade como sugere o profeta Isaías (Is 11,6; 65,25). O
que importa aqui no nosso texto é o dom do discernimento. Não é fácil
discernir os espíritos. Às vezes, acontece
que interesses pessoais ou grupais levam as pessoas a proclamar como falsos aqueles profetas que anunciam a
verdade que incomoda. Isto aconteceu com o próprio Jesus. Ele foi eliminado e
morto como falso profeta pelas autoridades religiosas da época. De vez em
quando, o mesmo aconteceu e continua acontecendo na nossa igreja.
* Mateus 7,16b-20 : A comparação da árvore e seus
frutos
Para ajudar no
discernimento dos espíritos, Jesus usa a comparação do fruto: “Vocês os conhecerão pelos frutos”. Um
critério semelhante já tinha sido sugerido pelo livro do Deuteronômio (Dt
18,21-22). E Jesus acrescenta: “Uma
árvore boa não pode dar frutos maus, e uma árvore má não pode dar bons
frutos. 19Toda árvore
que não der bons frutos, será cortada e jogada no fogo”. No evangelho de
João, Jesus completa a comparação: “Todo
ramo que não dá fruto em mim, o Pai o corta. Os ramos que dão fruto, ele os
poda para que dêem mais fruto ainda.
O ramo que não fica unido à videira não pode dar fruto. Esses ramos são
ajuntados, jogados no fogo e queimados." (Jo 15,2.4.6)
4) Para um confronto pessoal
1) Falsos profetas! Conhece algum caso em que uma
pessoa boa e honesta que proclamava uma verdade incômoda foi condenada como
falso profeta?
2) A julgar pelos frutos da árvore da sua vida
pessoal, como você se define: falso ou verdadeiro?
5) Oração final
Desvia meu olhar para eu não ver as
vaidades,
faze-me viver no teu caminho.
Eis que desejo teus preceitos;
pela tua justiça conserva-me a vida. (Sl
118,37.40)
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