REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Terça-feira da 10ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, fonte de todo bem,
atendei ao nosso apelo
e fazei-nos, por sua
inspiração,
pensar o que é certo
e realizá-lo com vossa ajuda.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 5,13-16)
13Vós
sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o
sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens.
14Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada
sobre uma montanha 15nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do
alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos
os que estão em casa. 16Assim, brilhe vossa luz diante dos homens,
para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.
3) Reflexão - Mt 5,13-16
* Ontem,
meditando as oito bem-aventuranças, passamos pelo portão de entrada do Sermão
da Montanha (Mt 5,1-12). No evangelho de hoje recebemos uma importante
instrução sobre a missão da Comunidade. Ela deve ser sal da terra e luz do
mundo (Mt 5,13-16). Sal não existe para si, mas para dar sabor à comida. Luz
não existe para si, mas para iluminar o caminho. A comunidade não existe para
si, mas para servir ao povo. Na época em que Mateus escrevia o seu evangelho,
esta missão estava sendo difícil para as comunidades dos judeus convertidos.
Apesar de viverem na observância fiel da lei de Moisés, elas estavam sendo
expulsas das sinagogas, cortadas do seu passado judeu. Enquanto isso, entre os
pagãos convertidos alguns diziam: “Depois que Jesus veio, a Lei de Moisés está
superada”. Tudo isto era causa de tensões e incertezas. A abertura de uns
parecia criticar a observância dos outros, e vice-versa. Este conflito gerou
uma crise que levou cada um a se fechar na sua própria posição. Uns querendo
avançar, outros querendo colocar a luz debaixo da mesa. Muitos se perguntavam:
"Afinal, qual a nossa missão?" Lembrando e atualizando as palavras de
Jesus, o Evangelho de Mateus procura ajudá-los:
* Mateus 5,13-16: Sal da terra.
* Usando
imagens do quotidiano, com palavras simples e diretas, Jesus faz saber qual a
missão e a razão de ser de uma comunidade cristã: ser sal. Naquele tempo, com o
calor que fazia, o povo e os animais precisavam de consumir muito sal. O sal,
entregue pelo fornecedor em grandes blocos colocados em praça pública, ia sendo
consumido pelo povo. No fim, aquilo que sobrava ficava espalhado como poeira no
chão, tinha perdido o gosto. “Não serve
para mais nada; serve só para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”. Jesus evoca este costume para esclarecer
os discípulos e as discípulas sobre a missão que devem realizar.
* Mateus 5,14-16: Luz do mundo.
* A
comparação é obvia. Ninguém acende uma vela para colocá-la debaixo de um
caixote. Uma cidade situada em cima de um morro não consegue ficar escondida. A
comunidade deve ser luz, deve iluminar. Não deve ter medo que apareça o bem que
faz. Não o faz para aparecer, mas o que faz pode aparecer. Sal não existe para
si. Luz não existe para si! Assim deve ser a comunidade: ela não pode fechar-se
sobre si mesma. “Que a luz de vocês
brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e
louvem o Pai de vocês que está no céu."
* Mateus 5,17-19: Nenhuma vírgula da lei vai cair.
* Entre
os judeus convertidos havia duas tendências. Uns achavam que já não era
necessário observar as leis do AT, pois é pela fé em Jesus que somos salvos e
não pela observância da Lei (Rm 3,21-26). Outros achavam que eles, sendo
judeus, deviam continuar observando as leis do AT (At 15,1-2). Em cada uma das
duas tendências havia grupos mais radicais. Diante deste conflito, Mateus
procura um equilíbrio para além dos dois extremos. A comunidade deve ser o
espaço, onde este equilíbrio possa ser alcançado e vivido. A resposta dada por
Jesus aos que o criticavam continuava bem atual: “Não vim abolir a lei, mas dar-lhe pleno cumprimento!”. As
comunidades não podem ser contra a Lei, nem podem fechar-se dentro da
observância da lei. Como Jesus, devem dar um passo e mostrar, na prática, que o
objetivo que a lei quer alcançar na vida é a prática perfeita do amor.
* As
várias tendências nas primeiras comunidades cristãs. O plano de salvação tem três etapas unidas entre si
pelo chão da vida: 1) O Antigo Testamento: a caminhada do povo hebreu,
orientada pela Lei de Deus. 2) A vida de Jesus de Nazaré: ele renova a Lei de
Moisés a partir da sua experiência de Deus como Pai/Mãe. 3) A vida das
Comunidades: através do Espírito de Jesus, elas procuram viver a vida como
Jesus a viveu. A unidade destas três etapas gera a certeza de fé de que Deus
está no meio de nós. As tentativas de quebrar ou de enfraquecer a unidade deste
plano de salvação geravam os vários grupos e tendências nas comunidades:
1. Os fariseus não reconheciam Jesus como Messias e
aceitavam só o AT. Dentro das comunidades havia gente simpatizante com a linha
dos fariseus (At 15,5)
2. Alguns judeus convertidos aceitavam Jesus como
Messias, mas não aceitavam a liberdade do Espírito com que as comunidades
viviam a presença de Jesus ressuscitado. (At 15,1).
3. Outros, tanto judeus como pagãos convertidos,
achavam que com Jesus tinha chegado o fim do AT. Daqui para a frente, só Jesus
e a vida no Espírito.
4. Havia ainda cristãos que viviam tão plenamente a
vida na liberdade do Espírito, que já não olhavam mais para a vida de Jesus de
Nazaré nem para o Antigo Testamento (1Cor 12,3).
5. Ora, a grande preocupação do Evangelho de Mateus é
mostrar que o AT, Jesus de Nazaré e a vida no Espírito não podem ser separados.
Os três fazem parte do mesmo e único projeto de Deus e nos comunicam a certeza
central da fé: o Deus de Abraão e Sara está presente no meio das comunidades pela
fé em Jesus de Nazaré.
4) Para um confronto pessoal
1. Para você, na sua experiência de vida, para que
serve o sal? Sua comunidade está sendo sal? Para você, o que significa a luz na
sua vida? De que maneira sua comunidade está sendo Luz?
2. Como as pessoas do bairro vêem a sua comunidade?
Sua comunidade exerce alguma atração? É sinal? Sinal de que? Para quem?
5) Oração final
Quando vos invoco, respondei-me, ó Deus de minha
justiça,
vós que na hora da angústia me reconfortastes.
Tende piedade de mim e ouvi minha oração. (Sl
4,2)
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