2 de jun. de 2013

Sábado da 9ª Semana do Tempo Comum


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)


Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

Sábado da 9ª Semana do Tempo Comum

1) Oração

Ó Deus, cuja providência jamais falha,

nós vos suplicamos humildemente:
afastai de nós o que é nocivo,
e concedei-nos tudo o que for útil.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho  (Marcos 12,38-44)

38Ele lhes dizia em sua doutrina: Guardai-vos dos escribas que gostam de andar com roupas compridas, de ser cumprimentados nas praças públicas 39e de sentar-se nas primeiras cadeiras nas sinagogas e nos primeiros lugares nos banquetes. 40Eles devoram os bens das viúvas e dão aparência de longas orações. Estes terão um juízo mais rigoroso. 41Jesus sentou-se defronte do cofre de esmola e observava como o povo deitava dinheiro nele; muitos ricos depositavam grandes quantias. 42Chegando uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, no valor de apenas um quadrante. 43E ele chamou os seus discípulos e disse-lhes: Em verdade vos digo: esta pobre viúva deitou mais do que todos os que lançaram no cofre, 44porque todos deitaram do que tinham em abundância; esta, porém, pôs, da sua indigência, tudo o que tinha para o seu sustento.

3) Reflexão  - Mc 12,38-44
*  No evangelho de hoje estamos chegando ao fim da longa instrução de Jesus aos discípulos. Desde a primeira cura do cego (Mc 8,22-26) até à cura do cego Bartimeu em Jericó 10,46-52), os discípulos caminharam com Jesus para Jerusalém, recebendo dele muitas instruções sobre a paixão, morte e ressurreição e as consequências para a vida do discípulo. Chegando em Jerusalém, estiveram presentes aos debates de Jesus com os comerciantes no Templo (Mc 11,15-19), com os sumos sacerdotes e escribas (Mc 11,27 a 12,12), com os fariseus, herodianos e saduceus (Mc 12,13-27), com os doutores da lei (Mc 12,28-37. Agora, no evangelho de hoje, após uma última crítica fortíssimo contra os escribas (Mc 12,38-40), Jesus encerra a instrução aos discípulos. Sentado em frente ao cofre de esmolas do Templo, ele chama a atenção deles para o gesto de partilha de uma pobre viúva. É neste gesto que eles devem procurar a manifestação da vontade de Deus (Mc 12,41-44).
*  Marcos 12,38-40: A crítica aos doutores da Lei.
Jesus chama a atenção dos discípulos para o comportamento ganancioso e hipócrita de alguns doutores da lei. Estes tinham gosto em circular pelas praças em longas túnicas, receber as saudações do povo, ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes. Eles gostavam de entrar nas casas das viúvas e fazer longas preces em troca de dinheiro! E Jesus termina: “Essa gente vai receber um julgamento mais severo!”
*  Marcos 12,41-42. A esmola da viúva.
Jesus e os discípulos, sentados em frente ao cofre de esmolas do Templo, observavam como todo mundo colocava aí a sua esmola. Os pobres jogavam poucos centavos, os ricos jogavam moedas de grande valor. Os cofres do Templo recebiam muito dinheiro. Todo mundo trazia alguma coisa para a manutenção do culto, para o sustento do clero e para a conservação do prédio. Parte deste dinheiro era usada para ajudar os pobres, pois naquele tempo não havia previdência social. Os pobres viviam entregues à caridade pública. E os pobres que mais precisavam da ajuda dos outros eram os órfãos e as viúvas. Estas não tinham nada. Dependiam em tudo da ajuda dos outros. Mas mesmo sem ter nada, elas faziam questão de partilhar. Assim, uma viúva bem pobre colocou sua esmola no cofre do templo. Poucos centavos, apenas!
*  Marcos 12,43-44. Jesus aponta onde se manifesta a vontade de Deus.
O que vale mais: os dez centavos da viúva ou os mil reais dos ricos? Para os discípulos, os mil reais dos ricos eram muito mais úteis para fazer a caridade do que os dez centavos da viúva. Eles pensavam que o problema do povo só poderia ser resolvido com muito dinheiro. Por ocasião da multiplicação dos pães, eles tinham dito a Jesus: “O senhor quer que vamos comprar pão por duzentos denários para dar de comer ao povo?” (Mc 6,37) De fato, para quem pensa assim, os dez centavos da viúva não servem para nada. Mas Jesus diz: “Esta viúva que é pobre lançou mais do que todos que ofereceram moedas ao Tesouro”. Jesus tem critérios diferentes. Chamando a atenção dos discípulos para o gesto da viúva, ele ensina onde eles e nós devemos procurar a manifestação da vontade de Deus, a saber, nos pobres e na partilha. Muitos pobres de hoje fazem o mesmo. O povo diz: “Pobre não deixa pobre morrer de fome”. Mas às vezes, nem isso é possível. Dona Cícera que veio do interior da Paraíba, Brasil, para morar na periferia da capital, João Pessoa, dizia: “No interior, a gente era pobre, mas tinha sempre uma coisinha para dividir com o pobre na porta. Agora que estou aqui na cidade grande, quando vejo um pobre que vem bater na porta, eu me escondo de vergonha, porque não tenho nada em casa para dividir com ele!” De um lado: gente rica que tem tudo, mas não quer partilhar. Do outro lado: gente pobre que não tem quase nada, mas quer partilhar o pouco que tem.
*  Esmola, partilha, riqueza. A prática da esmola era muito importante para os judeus. Era considerada uma “boa obra”, pois dizia a lei do Antigo Testamento: “Nunca deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde e do teu pobre em tua terra”. (Dt 15,11). As esmolas, colocadas no cofre do templo, seja para o culto, seja para os necessitados, os órfãos ou as viúvas, eram consideradas como uma ação agradável a Deus. Dar esmola era uma maneira de reconhecer que todos os bens pertencem a Deus e que nós somos apenas administradores desses bens, para que haja vida em abundância para todas as pessoas. A prática da partilha e da solidariedade é uma das características das primeiras comunidades cristãs: “Não havia entre eles necessitado algum. De fato, os que possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam o resultado da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos” (At 4,34-35; 2,44-45). O dinheiro da venda, oferecido aos apóstolos, não era acumulado, mas “distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade” (At 4,35b; 2,45). A entrada de pessoas mais ricas nas comunidades fez com que a mentalidade da acumulação entrasse na comunidade e bloqueasse o movimento da solidariedade e da partilha. Tiago adverte estas pessoas: “Pois bem, agora vós, ricos, chorai por causa das desgraças que estão a sobrevir. A vossa riqueza apodreceu e as vossas vestes estão carcomidas pelas traças.” (Tg 5,1-3). Para aprender o caminho do Reino, todos precisam tornar-se alunos daquela viúva pobre, que partilhou tudo o que tinha, o necessário para viver (Mc 12,41-44).

4) Para um confronto pessoal
1. Como é que os dois centavos da viúva podem valer mais que os mil reais dos ricos? Olhe bem o texto e diga por que Jesus elogiou a viúva pobre. Qual a mensagem deste texto para nós hoje?
2. Quais as dificuldades e alegrias que você já encontrou na sua vida ao praticar a solidariedade e a partilha com os outros?

5) Oração final
Minha boca andava cheia de vossos louvores,
cantando continuamente vossa glória.
Na minha velhice não me rejeiteis,
ao declinar de minhas forças não me abandoneis. (Sl 70,8-9)



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