REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Sexta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Deus do universo, fonte de
todo bem,
derramai em nossos corações
o vosso amor
e estreitai os laços que nos
unem convosco
para alimentar em nós o que
é bom
e guardar com solicitude o
que nos destes.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 5,33-39) (Mc 2,18-22)
Naquele tempo, 33os fariseus e os mestres da lei disseram a
Jesus: Os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam com freqüência
e fazem longas orações, mas os teus comem e bebem... 34Jesus
respondeu-lhes: Porventura podeis vós obrigar a jejuar os amigos do esposo,
enquanto o esposo está com eles? 35Virão dias em que o esposo lhes
será tirado; então jejuarão. 36Propôs-lhes também esta comparação:
Ninguém rasga um pedaço de roupa nova para remendar uma roupa velha, porque
assim estragaria uma roupa nova. Além disso, o remendo novo não assentaria bem
na roupa velha. 37Também ninguém põe vinho novo em odres velhos; do
contrário, o vinho novo arrebentará os odres e entornar-se-á, e perder-se-ão os
odres; 38mas o vinho novo deve-se pôr em odres novos, e assim ambos
se conservam. 39Demais, ninguém que bebeu do vinho velho quer já do
novo, porque diz: O vinho velho é melhor. - Palavra da salvação.
3) Reflexão Lucas
5,33-39
* No evangelho de hoje vamos ver de perto mais um conflito entre Jesus e as
autoridades religiosas de época, escribas e fariseus (Lc 5,3). Desta vez, o
conflito é em torno da prática do jejum. Lucas relata vários conflitos em torno
das práticas religiosas da época: o perdão dos pecados (Lc 5,21-25), comer com
pecadores (Lc 5,29-32), o jejum (Lc 5,33-36), e mais dois conflitos em torno da
observância do sábado (Lc 6,1-5 e Lc 6,6-11).
* Lucas 5,33: Jesus não insiste na prática do jejum
Aqui, o conflito é em torno
da prática do jejum. O jejum é um costume muito antigo, pregado por quase
todas as religiões. O próprio Jesus o praticou durante quarenta dias (Mt 4,2).
Mas ele não insiste com os discípulos para que façam o mesmo. Deixa a eles a
liberdade. Por isso, os discípulos de João Batista e dos fariseus, que eram
obrigados a jejuar, querem saber por que motivo Jesus não insiste no jejum.
* Lucas
5,34-35: Enquanto o noivo está
com eles não precisam jejuar
Jesus responde com uma
comparação. Enquanto o noivo está com os amigos do noivo, isto é, durante a
festa do casamento, estes não precisam jejuar. Jesus se considera o noivo.
Durante o tempo em que ele, Jesus, estiver com os discípulos, é festa de
casamento. Um dia, porém, o noivo vai ser tirado. Aí, se quiserem, podem
jejuar. Jesus alude à sua morte. Ele sabe e sente que, se ele continuar neste
caminho de liberdade, as autoridades vão querer matá-lo.
* No Antigo Testamento, várias vezes, o
próprio Deus se apresenta como sendo o noivo do povo (Is 49,15; 54,5.8; 62,4-5;
Os 2,16-25). No Novo Testamento, Jesus é visto como o noivo do seu povo (Ef
5,25). O Apocalipse faz o convite para a celebração das núpcias do Cordeiro com
sua esposa a Jerusalém celeste (Ap 19,7-8; 21,2.9).
* Lucas 5,36-39: Vinho novo em odre novo!
Estas palavras meio soltas
sobre o remendo novo em pano velho e sobre o vinho novo em odre
novo devem ser entendidas como uma luz que joga sua claridade
sobre os vários conflitos, relatados por Lucas, antes e depois da discussão em
torno do jejum. Elas esclarecem a atitude de Jesus com relação a todos os
conflitos com as autoridades religiosas. Colocados em termos de hoje seriam conflitos
como estes: casamento de pessoas divorciadas, amizade com prostitutas e
homossexuais, comungar sem estar casado na igreja, faltar à missa no domingo,
não fazer jejum na Sexta-feira Santa, etc.
Não se coloca remendo de
pano novo em roupa velha. Na hora de lavar, o remendo novo repuxa o vestido
velho e o estraga mais ainda. Ninguém coloca vinho novo em odre
velho, porque o vinho novo pela fermentação faz estourar o odre
velho. Vinho novo em odre novo! A religião
defendida pelas autoridades religiosas era como roupa velha, como odre
velho. Não se deve querer combinar o novo que Jesus trouxe com
os costumes antigos. Ou um, ou outro! O vinho novo que Jesus trouxe faz
estourar o odre velho. Tem que saber separar as coisas. Muito
provavelmente, Lucas traz estas palavras de Jesus para orientar as comunidades
dos anos 80. Havia um grupo de judeu-cristãos que queriam reduzir a novidade de
Jesus ao tamanho do judaísmo de antes. Jesus não é contra o que é “velho”. O
que ele não quer é que o velho se
imponha ao novo e, assim, o impeça de
manifestar-se. Seria o mesmo que, na Igreja Católica, reduzir a mensagem do
Concílio Vaticano II ao tamanho da igreja de antes do concílio, como hoje muita
gente parece estar querendo.
4) Para um confronto pessoal
1.
Quais os conflitos em torno de práticas religiosas que, hoje, trazem sofrimento
para as pessoas e são motivo de muita discussão e polêmica? Qual a imagem de
Deus que está por trás de todos estes preconceitos, normas e proibições?
2. Como entender hoje a frase de Jesus: “Não colocar remendo de pano novo
em roupa velha”? Qual a mensagem
que você tira de tudo isto para a sua vida e a vida da sua comunidade?
5) Oração final
Confia ao Senhor a tua sorte,
espera nele, e ele agirá.
Como a luz, fará brilhar a tua justiça;
e como o sol do meio-dia, o teu direito (Sl
36,2)
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