REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Sábado da 24ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, criador de todas as coisas,
volvei para nós o vosso olhar
e, para sentirmos em nós a ação do vosso amor,
fazei que vos sirvamos de todo o coração.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 8,4-15)
Naquele tempo, 4Reuniu-se uma grande multidão: eram pessoas
vindas de várias cidades para junto de Jesus. Ele lhes disse esta parábola: 5Saiu
o semeador a semear a sua semente. E ao semear, parte da semente caiu à beira
do caminho; foi pisada, e as aves do céu a comeram. 6Outra caiu no
pedregulho; e, tendo nascido, secou, por falta de umidade. 7Outra
caiu entre os espinhos; cresceram com ela os espinhos, e sufocaram-na. 8Outra,
porém, caiu em terra boa; tendo crescido, produziu fruto cem por um. Dito isto,
Jesus acrescentou alteando a voz: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! 9Os
seus discípulos perguntaram-lhe a significação desta parábola. 10Ele
respondeu: A vós é concedido conhecer os mistérios do Reino de Deus, mas aos
outros se lhes fala por parábolas; de forma que vendo não vejam, e ouvindo não
entendam. 11Eis o que significa esta parábola: a semente é a palavra
de Deus. 12Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem;
mas depois vem o demônio e lhes tira a palavra do coração, para que não creiam
nem se salvem. 13Aqueles que a recebem em solo pedregoso são os ouvintes
da palavra de Deus que a acolhem com alegria; mas não têm raiz, porque crêem
até certo tempo, e na hora da provação a abandonam. 14A que caiu
entre os espinhos, estes são os que ouvem a palavra, mas prosseguindo o
caminho, são sufocados pelos cuidados, riquezas e prazeres da vida, e assim os
seus frutos não amadurecem. 15A que caiu na terra boa são os que
ouvem a palavra com coração reto e bom, retêm-na e dão fruto pela perseverança. Palavra da Salvação.
3) Reflexão Lucas
8,4-15
* No evangelho de hoje, vamos meditar sobre a parábola da
semente. Jesus tinha um jeito bem popular de ensinar por meio de parábolas. Uma
parábola é uma comparação que usa as coisas conhecidas e visíveis da vida para
explicar as coisas invisíveis e desconhecidas do Reino de Deus. Jesus tinha uma capacidade muito
grande de encontrar imagens bem simples para comparar as coisas de Deus com as coisas da vida que o povo conhecia e
experimentava na sua luta diária pela sobrevivência. Isto supõe duas coisas:
estar por dentro das coisas da vida, e estar por dentro das coisas de Deus, do
Reino de Deus. Por exemplo, o povo da
Galiléia entendia de semente, de terreno, chuva, sol, sal, flores, colheita,
pescaria, etc. Ora, são exatamente estas coisas conhecidas do povo que Jesus
usa nas parábolas para explicar o mistério do Reino. O agricultor que escutou,
diz: “Semente no terreno, eu sei o que é! Jesus diz que isso tem a ver com o
Reino de Deus. O que seria?” E aí você pode imaginar as longas conversas do
povo! A parábola mexe com o povo e leva a escutar a natureza e a pensar na
vida.
* Quando terminava de contar uma parábola, Jesus não a
explicava, mas costumava dizer: “Quem tem
ouvidos para ouvir ouça!” O que significava: “É isso! Vocês ouviram. Agora,
tratem de entender!” De vez em quando, ele explicava para os discípulos. O povo
gostava desse jeito de ensinar, porque Jesus acreditava na capacidade do
pessoal de descobrir o sentido das parábolas. A experiência que o povo tinha da
vida era para ele um meio para descobrir a presença do mistério de Deus em suas
vidas e criar coragem para não desanimar na caminhada.
* Lucas 8,4: A
multidão atrás de Jesus
Lucas diz: Ajuntou-se
uma grande multidão, e de todas as cidades as pessoas iam até Jesus. Então ele
contou esta parábola. Marcos descreve como Jesus contou a parábola. Havia
tanta gente que ele, para não ser atropelado, entrou num barco e sentado no
barco ensinava o povo que estava na praia (Mc 4,1).
* Lucas 8,5-8a: A
parábola da semente retrata a vida do camponês.
Naquele tempo,
não era fácil viver da agricultura. O terreno tinha muita pedra. Muito mato.
Pouca chuva, muito sol. Além disso, muitas vezes, o povo encurtava estrada e,
passando no meio do campo, pisava nas plantas (Mc 2,23). Mesmo assim, apesar de
tudo isso, todo ano, o agricultor semeava e plantava, confiando na força da
semente, na generosidade da natureza.
* Lucas 8,8b: Quem
tem ouvidos para ouvir, ouça!
No fim, Jesus
termina dizendo: “Quem tem ouvidos para
ouvir, ouça!” O caminho para chegar ao entendimento da parábola é a busca:
“Tratem de entender!” A parábola não entrega tudo pronto, mas leva a pessoa a
pensar. Faz com que ela descubra a mensagem a partir da experiência que ela
mesma tem da semente. Provoca a criatividade e a participação. Não é uma
doutrina que já vem pronta para ser ensinada e decorada. A Parábola não dá água
engarrafada, mas entrega a fonte.
* Lucas 8,9-10: Jesus
explica a parábola aos discípulos
Em casa, a sós
com Jesus, os discípulos querem saber o significado da parábola. Jesus
respondeu por meio de uma frase difícil e misteriosa. Ele diz aos discípulos: "A vocês foi dado conhecer os mistérios
do Reino de Deus. Mas, aos outros ele vem por meio de parábolas, para que
olhando não vejam, e ouvindo não compreendam". Esta frase faz a gente
se perguntar: Afinal, a parábola serve para que? Para esclarecer ou para
esconder? Será que Jesus usava parábolas, para que o povo continuasse na
ignorância e não chegasse a se converter? Certamente que não! Pois em outro
lugar se diz que Jesus usava parábolas “conforme a capacidade dos ouvintes” (Mc
4,33). Parábola
revela e esconde ao mesmo tempo! Revela para “os de dentro”, que aceitam Jesus
como Messias Servidor. Esconde para
os que insistem em ver nele o Messias como Rei
grandioso. Estes entendem as imagens da parábola, mas não chegam a entender
o seu significado.
* Lucas 8,11-15: A
explicação da parábola, parte por parte
Uma por uma,
Jesus explica as partes da parábola, desde a semente e o terreno até à
colheita. Alguns estudiosos acham que esta explicação foi acrescentada depois.
Não seria de Jesus, mas de alguma comunidade. É bem possível. Tanto faz! Pois
dentro do botão da parábola está a flor da explicação. Botão e flor, ambos têm
a mesma origem que é Jesus. Por isso, nós também podemos continuar a reflexão e
descobrir outras coisas bonitas dentro da parábola. Certa vez, alguém perguntou
numa comunidade: “Jesus falou que devemos ser sal. Para que serve o sal?” As
pessoas foram dando sua opinião a partir da experiência que cada um tinha do
sal. Discutiram e, no fim, encontraram mais de dez finalidades diferentes para
o sal! Aí foram aplicar tudo isto à vida da comunidade e descobriram que ser
sal é difícil e exigente. A parábola funcionou! O mesmo vale para a semente.
Todo mundo tem alguma experiência de semente.
4) Para um confronto pessoal
1. A semente cai em quatro lugares diferentes:
caminho, pedra, espinhos e terra boa. O que significa cada um destes quatro
terrenos? Que terreno sou eu? Às vezes, a gente é pedra. Outras vezes, é
espinho. Outras vezes, é caminho. Outras vezes, é terra boa. Na nossa
comunidade, o que somos normalmente?
2. Quais os frutos que a Palavra de Deus está
produzindo na nossa vida e na nossa comunidade?
5) Oração final
É em Deus, cuja promessa eu proclamo,
é em Deus que eu ponho minha esperança;
nada temo: que mal me pode fazer um ser de carne? (Sl
55,11-12)
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