REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Segunda-feira da 34ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Levantai, ó Deus, o ânimo dos vossos filhos e filhas,
para que, aproveitando melhor as vossas graças,
obtenham de vossa paternal bondade mais poderosos
auxílios.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 21,
1-4)
Naquele tempo, 1Levantando os olhos, viu Jesus os ricos que
deitavam as suas ofertas no cofre do templo. 2Viu também uma viúva
pobrezinha deitar duas pequeninas moedas, 3e disse: Em verdade vos
digo: esta pobre viúva pôs mais do que os outros. 4Pois todos
aqueles lançaram nas ofertas de Deus o que lhes sobra; esta, porém, deu, da sua
indigência, tudo o que lhe restava para o sustento. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
* No
Evangelho de hoje, Jesus elogia uma viúva pobre que soube partilhar mais que os
ricos. Muitos pobres de hoje fazem o mesmo. O povo diz: “Pobre não deixa pobre
morrer de fome”. Mas às vezes, nem isso é possível. Dona Cícera que veio do
interior da Paraíba, Brasil, para morar na periferia da cidade dizia: “No
interior, a gente era pobre, mas tinha sempre uma coisinha para dividir com o
pobre na porta. Agora que estou aqui na cidade, quando vejo um pobre que vem
bater na porta, eu me escondo de vergonha, porque não tenho nada em casa para
dividir com ele!” De um lado: gente rica que tem tudo, mas não quer partilhar.
Do outro lado: gente pobre que não tem quase nada, mas quer partilhar o pouco
que tem.
* No início da Igreja, as primeiras comunidades
cristãs, na sua maioria, eram de gente pobre (1Cor 1,26). Aos poucos, foram
entrando também pessoas mais ricas, o que trouxe consigo vários problemas. As
tensões sociais, que marcavam o império romano, começaram a marcar também a
vida das comunidades. Isto se manifestava, por exemplo, quando elas se reuniam
para celebrar a ceia (1Cor 11,20-22), ou quando faziam reunião (Tg 2,1-4). Por
isso, o ensinamento do gesto da viúva era muito atual, tanto para eles, como
para nós hoje.
* Lucas 21,1-2: A esmola da viúva.
Jesus
estava em frente ao cofre do Templo e observava como todo mundo colocava aí a
sua esmola. Os pobres jogavam poucos centavos, os ricos jogavam moedas de
grande valor. Os cofres do Templo recebiam muito dinheiro. Todo mundo trazia
alguma coisa para a manutenção do culto, para o sustento do clero e para a
conservação do prédio. Parte deste dinheiro era usada para ajudar os pobres,
pois naquele tempo não havia previdência social. Os pobres viviam entregues à
caridade pública. As pessoas mais necessitadas eram os órfãos e as viúvas. Elas
dependiam em tudo da caridade dos outros, mas mesmo assim, faziam questão de
partilhar com os outros o pouco que possuíam. Assim, uma viúva bem pobre
colocou sua esmola no cofre do templo. Dois centavos, apenas!
* Lucas 21,3-4: O comentário de Jesus
O
que vale mais: os poucos centavos da viúva ou as muitas moedas dos ricos? Para
a maioria, as moedas dos ricos eram muito mais úteis para fazer caridade, do
que os poucos centavos da viúva. Os discípulos, por exemplo, pensavam que o
problema do povo só poderia ser resolvido com muito dinheiro. Por ocasião da
multiplicação dos pães, eles tinham dado a sugestão de comprar pão para dar de
comer ao povo (Lc 9,13; Mc 6,37). Filipe chegou a dizer: “Duzentos denários não bastam para dar um pouco para cada um!” (Jo
6,7). De fato, para quem pensa assim, os dois centavos da viúva não servem para
nada. Mas Jesus diz: “Esta viúva
depositou mais do que todos os outros”. Jesus tem critérios diferentes.
Chamando a atenção dos discípulos para o gesto da viúva, ele ensina a eles e a
nós onde devemos procurar a manifestação da vontade de Deus, a saber, nos
pobres e na partilha. E um critério muito importante é este: “Todos os outros depositaram do que estava
sobrando para eles. Mas a viúva, na sua pobreza, depositou tudo o que possuía
para viver”.
* Esmola,
partilha, riqueza
A prática de dar esmolas
era muito importante para os judeus. Era considerada uma “boa obra”, pois a lei
do Antigo Testamento dizia: “Nunca deixará de haver pobres na terra; por
isso, eu te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde e do teu
pobre em tua terra”. (Dt 15,11). As esmolas, colocadas no cofre do templo,
seja para o culto, seja para os necessitados, órfãos ou viúvas, eram
consideradas como uma ação agradável a Deus (Eclo 35,2; cf. Eclo 17,17; 29,12;
40,24). Dar esmola era uma maneira de reconhecer que todos os bens e dons
pertencem a Deus e que nós somos apenas administradores desses dons. Mas a
tendência à acumulação continua muito forte. Cada vez de novo, ela renasce no
coração humano. A conversão é sempre necessária. Por isso Jesus dizia ao jovem
rico: “Vai, vende tudo o que tens, dá para
os pobres” (Mc 10,21). A mesma exigência é repetida nos outros evangelhos: “Vendei
vossos bens e dai esmolas. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro
inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói” (Lc
12,33-34; Mt 6,9-20). A prática da partilha e da solidariedade é uma das
características que o Espírito de Jesus quer realizar nas comunidades. O
resultado da efusão do Espírito no dia de Pentecoste era este: “Não havia
entre eles necessitado algum. De fato, os que possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam o resultado da venda e o
colocavam aos pés dos apóstolos” (At 4,34-35ª; 2,44-45). Estas esmolas
colocadas aos pés dos apóstolos não eram acumuladas, mas “distribuía-se,
então, a cada um, segundo a sua necessidade” (At 4,35b; 2,45). A entrada de
ricos na comunidade cristã possibilitou, por um lado, uma expansão do
cristianismo, dando melhores condições para as viagens missionárias. Mas, por
outro lado, a tendência à acumulação bloqueava o movimento da solidariedade e
da partilha. Tiago ajudava as pessoas a tomarem consciência do caminho
equivocado: “Pois bem, agora vós, ricos, chorai por causa das desgraças que
estão a sobrevir. A vossa riqueza apodreceu e as vossas vestes estão carcomidas
pelas traças.” (Tg 5,1-3). Para aprender o caminho do Reino, todos precisam
tornar-se alunos daquela viúva pobre, que partilhou com os outros até o
necessário para viver (Lc 21,4).
4) Para um confronto pessoal
1. Quais as
dificuldades e alegrias que você já encontrou em sua vida ao praticar a solidariedade
e a partilha com os outros?
2. Como é que os dois centavos da
viúva podem valer mais que as muitas moedas dos ricos? Qual a mensagem deste
texto para nós hoje?
5) Oração final
Ficai sabendo que o Senhor é Deus;
ele nos fez e nós somos seus,
seu povo e rebanho do seu pasto.
(Sl 99, 3)
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