REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Segunda-feira da 32ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Deus de poder e misericórdia,
afastai de nós todo obstáculo para que,
inteiramente
disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 17, 1-6)
Naquele tempo, 1Jesus disse também a seus discípulos: É
impossível que não haja escândalos, mas ai daquele por quem eles vêm! 2Melhor
lhe seria que se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e que fosse
lançado ao mar, do que levar para o mal a um só destes pequeninos. Tomai
cuidado de vós mesmos. 3Se teu irmão pecar, repreende-o; se se
arrepender, perdoa-lhe. 4Se pecar sete vezes no dia contra ti e sete
vezes no dia vier procurar-te, dizendo: Estou arrependido, perdoar-lhe-ás. 5Os
apóstolos disseram ao Senhor: Aumenta-nos a fé! 6Disse o Senhor: Se
tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e
transplanta-te no mar, e ela vos obedecerá. - Palavra da salvação.
3) Reflexão Lucas 17,1-6
* O
evangelho de hoje traz três palavras distintas de Jesus: uma sobre como evitar
o escândalo dos pequenos, outra sobre a importância do perdão e uma terceira
sobre o tamanho da fé em Deus que devemos ter.
* Lucas 17,1-2: Primeira palavra: evitar o
escândalo
“Jesus
disse a seus discípulos: "É inevitável que aconteçam escândalos, mas, ai
daquele que produz escândalos! Seria melhor para ele que lhe amarrassem uma
pedra de moinho no pescoço e o jogassem no mar, do que escandalizar um desses
pequeninos”. Escândalo é aquilo que faz a pessoa tropeçar e cair. No nível da fé
significa aquilo que desvia a pessoa
do bom caminho. Escandalizar os pequenos
é ser motivo pelo qual os pequenos se desviem e percam a fé em Deus. Quem faz
isto recebe a seguinte sentença: “Corda no pescoço amarrada numa pedra de
moinho para ser jogado no fundo do mar!” Por que tanta severidade? É porque
Jesus se identifica com os pequenos, os pobres. (Mt 25,40.45). São os seus
preferidos, os primeiros destinatários da Boa Nova (cf. Lc 4,18). Quem toca
neles, toca em Jesus! Ao longo dos
séculos, muitas vezes, nós cristãos pelo nosso modo de viver a fé fomos motivo
pelo qual os pequenos se afastaram da igreja e procuraram outras religiões. Já não conseguiam crer, como dizia o apóstolo na
carta aos romanos, citando o profeta Isaías: "Por causa de vocês, o nome de
Deus é blasfemado entre os pagãos."
(Rm 2,24; Is 52,5; Ez 36,22). Até onde nós temos culpa? Será que merecemos a
corda no pescoço?
* Lucas 17,3-4: Segunda palavra: Perdoar o irmão
“Prestem
atenção! Se o seu irmão peca contra você, chame a atenção dele. Se ele se
arrepender, perdoe. Se ele pecar contra você sete vezes num só dia, e sete
vezes vier a você, dizendo: 'Estou arrependido', você deve perdoá-lo”. Sete
vezes por dia! Não é pouco! Jesus pede muito! No evangelho de Mateus, ele diz
que devemos perdoar até setenta vezes sete! (Mt 18,22). O perdão e a reconciliação
são um dos assuntos em que Jesus mais insiste. A graça de poder perdoar as
pessoas e reconciliá-las entre si e com Deus foi dada a Pedro (Mt 16,19), aos
apóstolos (Jo 20,23) e à comunidade (Mt 18,18). A parábola sobre a necessidade
de perdoar o próximo não deixa dúvida: se não perdoarmos aos irmãos, não
podemos receber o perdão de Deus (Mt 18,22-35; 6,12.15; Mc 11,26). Pois não há
proporção entre o perdão que recebemos de Deus e o perdão que devemos oferecer
ao próximo. O perdão com que Deus nos perdoa gratuitamente é como dez mil talentos comparados com cem denários (Mt 18,23-35). A Bíblia de
Jerusalém fez o cálculo: dez mil talentos são 174 toneladas de ouro; cem
denários não passam de 30 gramas de ouro.
* Lucas 17,5-6: Terceira palavra: Aumentar em nós
a fé
“Os
apóstolos disseram ao Senhor: "Aumenta a nossa fé!" O Senhor
respondeu: "Se vocês tivessem fé do tamanho de uma semente de mostarda,
poderiam dizer a esta amoreira: 'Arranque-se daí, e plante-se no mar'. E ela
obedeceria a vocês”. Neste contexto de
Lucas, a pergunta dos apóstolos aparece como motivada pela ordem de Jesus de
perdoar até sete vezes por dia ao irmão ou à irmã que pecar contra nós. Não é
fácil perdoar. O coração fica magoado, e a razão arruma mil motivos para não
perdoar. Só com muita fé em Deus é possível chegarmos ao ponto de ter um amor
tão grande que ele nos torne capazes de perdoar até sete vezes por dia ao irmão
que peca contra nós. Humanamente falando, aos olhos do mundo, perdoar assim é
loucura e escândalo, mas para nós tal atitude é expressão da sabedoria divina
que nos perdoa infinitamente mais. Dizia Paulo: “Nós anunciamos Cristo
crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. (1Cor 1,23) .
4) Para um confronto pessoal
1) Na minha vida, alguma vez, já fui
motivo de escândalo par o meu próximo? Ou alguma vez, os outros foram motivo de
escândalo para mim?
2) Será que sou capaz de perdoar sete
vezes por dia ao irmão ou à irmã que me ofende sete vezes por dia?
5) Oração final
Cantai em sua honra, tocai para ele,
recordai todos os seus milagres.
Gloriai-vos do seu santo nome,
alegre-se o coração dos que buscam o Senhor. (Sl 104, 2-3)
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