REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Quarta-feira da 31ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus de poder e misericórdia,
que concedeis a vossos filhos e filhas
a graça de vos servir como devem,
fazei que corramos livremente ao encontro das vossas
promessas.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 14, 25-33)
Naquele tempo, 25Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se,
disse-lhes: 26Se alguém vem a mim e não se desapega de seu pai, sua mãe, sua
mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua própria vida, não pode
ser meu discípulo. 27E quem não carrega a sua cruz e me segue, não
pode ser meu discípulo. 28Quem de vós, querendo fazer uma
construção, antes não se senta para calcular os gastos que são necessários, a
fim de ver se tem com que acabá-la? 29Para que, depois que tiver
lançado os alicerces e não puder acabá-la, todos os que o virem não comecem a
zombar dele, 30dizendo: Este homem principiou a edificar, mas não pode
terminar. 31Ou qual é o rei que, estando para guerrear com outro
rei, não se senta primeiro para considerar se com dez mil homens poderá
enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? 32De outra maneira,
quando o outro ainda está longe, envia-lhe embaixadores para tratar da paz. 33Assim,
pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu
discípulo. - Palavra da salvação.
3) Reflexão Lucas 14,25-33 (Mt 10,37-38)
* O
evangelho de hoje fala sobre o discipulado e apresenta as condições para alguém
poder ser discípulo ou discípula de Jesus. Jesus está a caminho de Jerusalém,
onde vai ser preso e morto na Cruz. Este é o contexto em que Lucas coloca as
palavras de Jesus sobre o discipulado.
* Lucas 14,25: Exemplo de catequese
O evangelho de hoje é um exemplo
bonito de como Lucas transforma as palavras de Jesus em catequese para o povo
das comunidades. Ele diz: “Grandes
multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele disse”. Jesus fala para as grandes multidões, isto é, fala para todos,
para o povo das comunidades do tempo de Lucas e inclusive para nós hoje. No
ensinamento que segue, ele coloca as condições para alguém poder ser discípulo
de Jesus.
* Lucas 14,25-26: Primeira condição: odiar pai e
mãe
Alguns diminuem a força da palavra odiar e traduzem “dar preferência a
Jesus acima dos pais”. O texto original usa a expressão “odiar os pais”. Em outro lugar Jesus manda amar e honrar os pais
(Lc 18,20). Como explicar esta contradição? Será que é uma contradição? No
tempo de Jesus a situação social e econômica levava as famílias a se fechar
sobre si mesmas e as impedia de cumprir a lei do resgate (goel), isto é, de
socorrer os irmãos e as irmãos da comunidade (clã) que estavam ameaçados de
perder sua terra ou de cair na escravidão (cf. Dt 15,1-18; Lev 25,23-43).
Fechadas sobre si mesmas, as famílias enfraqueciam a vida em comunidade. Jesus
quer refazer a vida em comunidade. Por isso pede que se rompa a visão estreita
da pequena família que se fecha sobre si mesma e pede para que as famílias se
abram e se unam entre si na grande família, na comunidade. Este é o sentido de odiar pai e mãe, mulher filhos, irmãos e
irmãs. Jesus mesmo, quando os parentes da sua pequena família queiram levá-lo
da volta para Nazaré, não atendeu ao pedido deles. Ignorou ou odiou o pedido deles e alargou a
família, dizendo: “Meu irmão, minha irmã, minha mãe é todos aquele que faz a
vontade do Pai” (Mc 3,20-21.31-35). Os vínculos familiares não podem impedir a
formação da Comunidade. Esta é a primeira condição.
* Lucas 14,27: Segunda condição: carregar a cruz
“Quem
não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo”. Para entender bem o alcance desta segunda exigência
devemos olhar o contexto em que Lucas coloca esta palavra de Jesus. Jesus está
indo para Jerusalém onde será crucificado e morto. Seguir Jesus e carregar a
cruz atrás dele significa ir com ele até Jerusalém para ser crucificado com
ele. Isto evoca a atitude das mulheres que “haviam
seguido a Jesus e servido a ele, desde quando ele estava na Galiléia. Muitas
outras mulheres estavam aí, pois tinham subido com Jesus a Jerusalém” (Mc
15,41). Evoca também a frase de Paulo na carta aos Gálatas: “Quanto a mim, que eu não me glorie, a não
ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi
crucificado para mim, e eu para o mundo. Crucificado para o mundo” (Gl
6,14)
* Lucas 14,28-32: Duas parábolas
As duas têm o mesmo objetivo: levar as
pessoas a pensar bem antes de tomar uma decisão. Na primeira parábola ele diz: “Se alguém de vocês quer construir uma
torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se
tem o suficiente para terminar? Caso contrário, lançará o alicerce e não será
capaz de acabar. E todos os que virem isso, começarão a caçoar, dizendo: Esse
homem começou a construir e não foi capaz de acabar!” Esta parábola não
precisa de explicação. Ela fala por si: que cada um reflita bem sobre a sua
maneira de seguir Jesus e se pergunte se calculou bem as condições antes de
tomar a decisão de ser discípulo de Jesus.
A segunda parábola: “Se um rei pretende sair para guerrear
contra outro, será que não vai sentar-se primeiro e examinar bem, se com dez
mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele
vê que não pode, envia mensageiros para negociar as condições de paz, enquanto
o outro rei ainda está longe”. Esta parábola tem o mesmo objetivo que a
precedente. Alguns perguntam: “Como é que Jesus foi usar um exemplo de guerra?”
A pergunta é pertinente para nós que conhecemos as guerras de hoje. Só a
segunda guerra mundial (1939 a 1945) causou a morte de 54 milhões de pessoas!
Naquele tempo, porém, as guerras eram como a concorrência comercial entre as
empresas de hoje que lutam entre si para ter mais lucro.
* Lucas 14,33: Conclusão para o discipulado
A conclusão é uma só: ser cristão,
seguir Jesus, é coisa séria. Hoje, para muita gente, ser cristão não é opção
pessoal nem decisão de vida, mas um simples fenômeno cultural. Não lhes passa
pela cabeça de fazer uma opção. Quem nasce brasileiro é brasileiro. Quem nasce
japonês é japonês. Não precisa optar. Já nasce assim e vai morrer assim. Muita
gente é cristão porque nasceu assim e morre assim, sem nunca ter tido a idéia
de optar e de assumir o que já é por nascimento.
4) Para um confronto pessoal
1) Ser cristão é coisa séria. Devo
calcular bem minha maneira de seguir Jesus. Como isto acontece na minha vida?
2) “Odiar os pais”; Comunidade ou
família! Como você combina as duas coisas? Consegue unir as duas em harmonia?
5) Oração final
O Senhor é minha luz e minha salvação;
de quem terei medo?
O Senhor é quem defende a minha vida;
a quem temerei?
(Sl 26, 1)
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